segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Casa da Professora Eroltides Siqueira

Foto/contribuição: FACE (Associação dos Filhos e Amigos de E da Cunha)

Ioiô da Professora sentado à frente.

Seu Ioiô, se fosse um espetáculo, não um ser humano, seria do tipo que os críticos classificam de "imperdível". Ele contava a história de Canudos tal qual a ouviu do pai, ou do sogro, ou de outras pessoas, quando jovem. Contava o que se dizia na região quando se soube que Moreira César estava chegando:

Vamos arretirar!!! Vem aí um Treme-Terra que não arrespeita sertanejo!!!

Ioiô da Professora, ou João Siqueira Santos, seu nome de registro, "da Professora" porque era filho da primeira professora do Cumbe, Erotildes Siqueira Santos, pele branca, farta cabeleira branca, magrinho e usava óculos de grossas lentes. Seu sogro era o maior fazendeiro do Cumbe, o "coronel" José Américo Camelo de Souza Velho, inimigo figadal do Conselheiro, mas nada da antiga fortuna, ou prestígio, sobrou para os descendentes. Ioiô vivia de um botequim que ocupava a parte da frente de sua modesta casa Eram muitas, compridas, e cheias de detalhes e vivas descrições, as histórias de seu Ioiô. Ele contou que Pajeú, o guerrilheiro tão temido do Conselheiro, incendiou duas fazendas do coronel Zé Américo. Numa delas, só ficou um quarto onde havia imagens de santos, acomodadas em nichos. "Não sou inimigo de santo", disse Pajeú, segundo Ioiô. "Aqui tem santo. Não pode destruir." E Ioiô acrescentava: "Esse povo do Conselheiro respeitava muito esse movimento de igreja, de santo"


Os bispos estavam contra o Conselheiro, explica Ioiô. Por que motivo?

As rezas dele atrapalhavam a religião. Mas havia outros também insatisfeitos

: O povo não queria mais obedecer os coronéis. Até para emprego, era com o Conselheiro.

Ioiô explicou, de diferentes maneiras, a crueldade e os maus bofes de Moreira César:

Era um terrível!!! Pior que Lampião!!!

Não matava mulher, mas homem era uma desgraça.

Era um ateu terrível!!! Dizia: "Não quero saber de santo".

Ioiô sentava, levantava, gesticulava. Interpretava, exclamava, dava um acento de voz a cada situação. Preenchia os claros das histórias com contribuições próprias, do tipo: "Então ele se sentou"; "Tirou o chapéu"; "A ordem de Moreira César foi seca". Ioiô contou que Moreira César foi vítima de uma maldição. Uma vez ele mandou fuzilar um médico. A viúva, de nome Olímpia, estava entre as pessoas que assistiram ao embarque de Moreira César, em Salvador, em direção a Canudos. Ela disse, naquele momento:

Vai, bandido sanguinário... Vais a Canudos, mas não voltas.

Não, não cabe dizer "se fosse um espetáculo"... Seu Ioiô da Professora era um espetáculo.

Fonte: Revista Veja

Resumo: Ney Campos

3 comentários:

Anônimo disse...

Essa é a casa da primeira professora de Euclides da Cunha?
Em outro momento nos foi informado que está em ruinas.
Governantes,euclidenses vão deixar que isso aconteça?

antonio matias de almeida disse...

Ney, vc.foi bastante criativo, no momento de criar este documento, faz lembrar os nossos passados e pensar muto no futuro, parabens. Antonio matias.

zenaide disse...

Li o livro de oleone coelho pontes "Lampião na Bahia", e gostei do depoimento de Iôiô da professora.Ele nos emociona como se tivesse estado em Canudos.