segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Laços de Família

Por Celso Mathias

Negrito Da direita para esquerda, Zizinha, Luti, Yayá, Adelina (irmã de Ceci) e Lourinho, irmão das duas últimas. As crianças, Nonato, Regina, Albertinho e Danuza filha de Zizinha

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Com Yayá morava a prima Ceci Campos irmã de Belarmino Campos, e de Tidinha, mãe de João e Ismael Abreu. Ceci fora criada junto com as irmãs, Nazinha, Zizinha e Luti. Na medida em que elas foram casando, Ceci que aos quinze anos tivera uma decepção amorosa optou por ir morar com Yayá na Rua dos Ricos.

Sempre que passo em determinados pontos dessa cidade, minha memória viaja no tempo em direção ao passado. Dia destes olhei para a descaracterizada fachada da bela casa da Rua da Igreja, fui lembrando de momentos em que pude conviver com o glamour daquele recanto. À frente da casa, havia um reles gramado que se estendia em direção da casa da minha madrinha Divina Maia, onde hoje mora seu filho Hildebrando e seguia até perto da antiga Igreja Matriz já, lamentavelmente, demolida. No gramado rolava sempre uma bola de meia. As exceções eram feitas quando de férias, os filhos de Zeca Dantas traziam boas bolas de borracha para um jogo mais animado do qual invariavelmente participava o Hildebrando.

Mas o melhor de tudo não estava no gramado. Estava exatamente na casa da fachada com uma mistura de estilos que lembra o Art Déco. Ali morava o casal Viriato e Rosália pai das duas mais lindas mulheres que a cidade já viu; Virisália (obviamente cruzamento dos nomes do pai e da mãe) e Celeste. Sempre rondando o pedaço, Torrado, personagem rocambolesca que alimentava um amor platônico pela bela Zalinha (Virisália). Ela casou-se com um engenheiro alemão e foi feliz até morrer precocemente no Rio de Janeiro. Torrado morreu de amor e álcool!


>>>> Dona Yayá


Aquela casa fora construída para abrigar o glamour. Foi ali que nasceram os irmãos José, Antonio e Deusdete. As irmãs Lutigard (Luti), Maria Assunção (Yayá), Alzira (Zizinha), e Ana (Nazinha), filhas de Joaquim Alves Campos e Maria Moreira Campos. De todos, continua viva e saudável, apenas a professora Lutigard, a Luti, casada com o bem sucedido comerciante e fazendeiro Raimundo Tomaz de Aquino. São filhos do casal Nonato, Regina, Marlos e Albertinho, bom advogado e bon vivant!




A figura que quero centrar nessas memórias é a de D.Yayá do Correio que ganhou o apelido por ser a agente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos em Euclides da Cunha durante algumas dezenas de anos, especialmente na minha pré adolescência.


>>>> Casa de Dona Yayá



Eu morava em frente à casa de Yayá onde também funcionava a Agência dos Correios na Rua dos Ricos.

A Rua dos Ricos ocupa a localidade que na primeira metade do século passado era conhecida como Bolandeira. D. Luti, a interlocutora desse passado, comenta com olhar de quem O visita:“Essa terra era toda de minha mãe que a vendeu por um valor simbólico ao então prefeito José Camerino que a comprou para construir a sede da Prefeitura. Ele pagou o equivalente à despesa de três semanas na nossa casa. No início dos anos cinquenta, Raimundo comprou de volta para construirmos essa casa onde estamos até hoje e que foi a terceira da rua.

Primeiro foi a Prefeitura, depois a casa do professor Teophilo onde agora mora o médico Aristides Queiroz e a casa de D. Pombinha, hoje existe apenas o terreno que pertence ao Samuel”.

E prossegue emocionada,“Minha mãe, em consequência da fragilidade da saúde de sua avó Amélia, foi mãe de leite do seu tio Zequinha. Nessa pequena cidade, todos temos laços de família. Minha irmã Nazinha, por exemplo, casou com Zé de Apromiano, nosso primo. Já meu pai, era irmão de Apromiano. Somos primos de Renato campos (ex-prefeito) por parte de pai e de mãe. A mãe deles, D. Lili, também era prima do meu marido”.

A casa de D. Yayá tinha muro baixo e um bem cuidado jardim. Uma porta lateral dava acesso à sede dos Correios onde um balcão a separava da clientela. Baixinha, delicada, de pele muito branca e cabelos negros à altura dos ombros, ela atendia a todos com um doce sorriso e sabia exatamente o que e a quem entregar no balcão.

E era uma delícia saborear na língua o gosto da cola do selo que abria a nossa relação com o universo. Sem internet, com um telégrafo precário, sem televisão, a carta era tudo isso junto e muito mais; trazia traços reveladores na caligrafia e às vezes até o perfume de quem a escreveu. Um contrastes absoluto com o que transformaram os Correios, que perdeu, além da confiança da população, a identidade de outrora. Hoje nem o usuário nem os próprios funcionários sabem se aquilo é um banco ou uma agência de cartas e encomendas.

Jovem, bonita e bem sucedida, Yayá teve dois namoricos; com Zuca, pai da prefeita Fátima Nunes e outro com Potámio Batista. Ambos não prosperaram; ela não alimentou a relação.

Com Yayá morava a prima Ceci Campos irmã de Belarmino Campos, e de Tidinha, mãe de João e Ismael Abreu. Ceci fora criada junto com as primas, Yayá, Nazinha, Zizinha e Luti. Na medida em que elas foram casando, Ceci que aos quinze anos tivera uma decepção amorosa optou por ir morar com Yayá que adquirira a casa construída por Santos do DNER na Rua dos Ricos.

Yayá morreu em 1997 aos 87 anos de idade, solteira e sem filhos deixando a marca da doçura e do equilíbrio que pautaram a sua existência.


>>>Rua Otávio Mangabeira (Rua dos Ricos)

Somos todos órfãos da Rua dos Ricos, onde mesmo os pobres nasciam ricos de esperança, da ausência de preconceitos e com a certeza da igualdade que permeava os nossos corações infantis.

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5 comentários:

Lucinha Moura disse...

Nossa! que beleza e quanta saudade!
Do casario antigo e de todas essas pessoas queridas.

Anônimo disse...

Mãe Yaya como era chamadas por muitos era uma mulher maravilhosa com ela moravam três moças:Nancy,( mais velha) Anita( a do meio) e Aparecida(a caçula),Tatá como era chamada dona Ceci,casou-se e foi morar em queimadas.As três meninas permaneceram em companhia de dona Yaya até o seu falecimneto ,todas foram criadas e educadas como filhas.Quem não lembra das mãos de mãe Yaya era macias como uma pluma,estando sempre disposta para ajudar o proximo sem olhar a quem.Quem não lembra de seu jardim ,senão o mais belo e perfumado da cidade,com os mais variados tipos de rosas,margaridas papoulas,hortencias,e outras diversidades?Pema que seu jardim morreu junto com ela.SAUDADES ETERNA

Maria disse...

Maria Assunção Campos ou dona Yaya do Correio ou simplismente mãe Yaya,uma mulher que não tinha estudos,só sabia ler e escrever,mas tinha uma educação finissíma,que deixou muitos ensinamentos,sua história de vida daria um bom livro,ficando orfã de mãe aos 29 anos e com uma irmã de apenas 09, ( Lutygarde)a qual ela educou,levando-a para estudar em um colegio em Senhor do Bonfim onde só as moças de familias ricas é que estudavam.Um exemplo de mulher!!!!!

Anônimo disse...

gostaria de saber se a nazinha que fala aqui nesse blog, é a mesma nazinha que foi o primeiro amor do cantor Luiz Gonzaga?

Unknown disse...

Incrível como essas lembranças nos remete a dias maravilhosos que vivi na "Rua dos Ricos". Eu, Cristina, tive vizinhos maravilhosos e amigos que levo para vida inteira. Anita, Ieda, Heliane "Gatinha", Cristina Victor, Paulinho, Marcos, o finado Marlos e tantos outros que fazem parte da melhor fase de minha vida: minha infância vivida com muitas travessuras, brincadeiras e liberdade. Obrigada!