LAMPIÃO NO
CUMBE DO MAJOR ANTONINO
(15 DE
DEZEMBRO DE 1928)
Por Dionísio Nóbrega
Com mais de
3 meses na Bahia
Lampião
parou na fazenda Araçá
Precisava de
um guia de confiança
Para sobre Cumbe se informar
Nesta fazenda de Dedé de Abreu
Lampião chegou no alvorecer do dia
Para conseguir um bom informante
E que o acompanhasse como guia
Acervo Fundaj MEC
Já foi chamada de Estrada do Araçá
Pelo povo e os que vinham do norte
Para passear, vender e comprar.
Ao pisar na Praça da Feira
Armado e bem informado
Foi logo pra Rua da Igreja
Onde morava o Delegado
De nome Luiz Caldeirão
Foi muito
bem tratado
Pelo já famoso Lampião
Chegar num dia de feira
Para Lampião foi um achado
Ele e os demais cangaceiros
Conseguiram um bom catado
Muita gente o viu chegar
Uns ficaram sem entender
O lampião neste lugar
Muita gente se assustou
Na velha Praça do Barracão
Alguns chegaram a correr
Quando viram o Lampião
Os mais velhos se lembraram
Do chefe da 3ª expedição
Mas depois se tranquilizaram
Com a visita de Lampião
Qual seria o mais malvado?
Moreira Cesar ou Lampião?
Nem no Cumbe nem no Araçá
Não foram eles violentos não
Lampião não quis saber do “ Lua”
Intendente de Cumbe
na ocasião
Preferiu o Delegado de Polícia
Para recebê-lo
como anfitrião
Em Cumbe, Lampião não perde tempo
Primeiro o dinheiro, depois a diversão
Tanto que em menos de meia hora
Começa o trabalho de arrecadação
Lampião, o “Rei do Cangaço”
Não quis saber de briga não
Houve festas, músicas e paz
Graças ao delegado Caldeirão
Na histórica casa de Seo Dantas
Perto de Nossa Srª
da Conceição
Por cerca de três anos já residia
O amigo e genro Luis Caldeirão
Seo Dantas correu às pressas
Para ver a sua filha querida.
Mas todos estavam tranquilos
Sem nenhum perigo de vida!
Dona Neném,
filha de Seu Dantas,
Esposa do delegado
Caldeirão,
Tranquilizou
amigos e parentes
Como
anfitriã do homem Lampião
Os jagunços
de Antônio Conselheiro
Muita coisa
desta casa quebraram
Porém trinta
e um anos depois
Nela os cangaceiros
se hospedaram
foto, ano 1935
Foto acervo: Maria Luiza (Lulu Modas)
Imagem: google
Ninguém
ousaria enfrentar
Lampião em
quebra-de-braço
Mas houve
muita compreensão
Do grande
chefe do cangaço
Muitos
euclidenses sofreram
Com os bilhetes
de Lampião
Escritos de
uma maneira geral
Com muito
respeito e educação
Dizem que o
que dá pra rir
Também dá
para chorar
Mas se algo
não acontece
Não se tem o
que cantar
Foi o
coronel Dedé de Abreu
Que apavorado
prejulgou
Perder tudo o
que era seu
Manuel
Araçá, seu fiel vaqueiro,
Apareceu
como que de repente
Sem saber como
se justificar,
Com uma cara triste de inocente
Por ser o
primeiro escolhido
O velho Dedé
não gostou não:
“Antes não
tivesse aparecido
Esse famoso
cangaceiro Lampião”
Ao receber a
desgraça do bilhete,
Exigindo
dele uma boa quantia,
Perguntou ao
seu fiel vaqueiro:
“Você foi
trazido como guia?!”
Tirar
dinheiro do velho Dedé
Nunca foi
muito fácil não!
Só mesmo o
rei do cangaço
Virgulino
Ferreira Lampião
Coronel Dedé
de Abreu
Morava na
Rua de Cima
Com Maria de
Joaninha
Pertinho de
outros Lima
Muito
difícil para alguém
Arrancar
algo do que era seu
Mas o
bilhete de Lampião
Estremeceu
Dedé de Abreu
Após o bota-fora
de Zé Antônio
Padre Berenguer
o substituía
Porém só de
vez em quando
É que este
Vigário aparecia
Não era tão
fácil chegar a Cumbe
Pelos
caminhos cheios de atalhos
Mesmo
assim o padre Berenguer
Andou
quebrando muitos galhos
Preocupava-se
com os intervalos
Do vigário
amigo F. Berenguer
Que vinha em
lombo de cavalos
O padre e o
político se uniram
Fazendo acordo para construir
Uma estrada
para automóveis
Que pudessem
viajar (vir e sair)
15 de
dezembro de 28, Berenguer
Chega num
“Ford” que ele dirigia
Para louvar
a padroeira de Cumbe
Uma semana
depois do seu “Dia”
Para o Pe.
Berenguer não foi bom
A chegada
imprevista de Lampião
Imagine se
na igreja haverá clima
Para se
obter boa concentração
O Lampião
mandou um bilhete,
Como um
“hóspede da cidade”,
Para o José
Batista de Macedo
Que mandou somente
a metade
Manoel do
Araçá foi buscar
Na casa de
Joaquim Matias
Dois contos
para Lampião
Mas voltou
de mãos vazias
Respondeu
Joaquim Matias
Não vou
mandar dinheiro não
Faço
questão: eu mesmo levo
Eu quero
conhecer o Lampião
Edmundo
tocou pra Lampião
Na casa
histórica da Rua da Igreja
Talvez logo
depois da refeição
Lampião
pediu a Edmundo
Que tocasse
uma bela canção
Que fosse
muito conhecida
Do povo
desse grande sertão
Edmundo, com
apenas sete anos,
Neste inesquecível
dia de feira,
Pegou a
gaita e tocou muito bem
A linda canção
“Mulher Rendeira”
Lampião
ainda não tinha visto
Coisa mais
linda neste mundo
Emocionado
botou no colo
Neste 15 de
dezembro de 28
No Cumbe
do Major Antonino
Os
cangaceiros se emocionaram
Com o grande
talento do menino
Onde está
Ioiô da Professora
Para ler
jornais pra Lampião
Noticiando
os “grandes” feitos
Que muito
abalaram o sertão?
Chamar Ioiô
da Professora
Que
coleciona e gosta de ler
Deixará
Lampião emocionado
Porque de
tudo ele vai saber.
Ioiô da
Professora ficou feliz
Por ter
conhecido Lampião
Guardou-lhe
vários jornais
Lidos em raríssima
ocasião
Perfumes da
marca “Cigália”
O chefão não
deixou de comprar
A João
Macedo e a Rogaciano
Para logo
logo depois usar
Para fazer
lenço comprou tecido
E outras
coisas mais de uma lista
Dizem que um
dos vendedores foi
O ainda
jovem Benjamin Batista
Houve
cachaçada dos cangaceiros
Todo o bando
começou a beber
O Lampião
foi um dos primeiros
Zé Dantas
abriu um “Macieira”
E sorrindo
ofereceu pra Lampião
Os dois,
intercruzando os braços,
Beberam com
muita satisfação
Os cabras
ficaram satisfeitos
Talvez mais
ainda com a refeição
Bem
preparada por Dona Neném
Esposa do delegado
Caldeirão
Na farra dos
cangaceiros houve
Muita música
cantada e tocada
O garoto
Edmundo brilhou tanto
Que parecia
até um conto de fada.
O povo se
uniu pra ver a festa
Já que
perdera todo o medo
Viu Lampião
comprar perfume
A Rogaciano
e a João Macedo.
Graças à
colaboração das pessoas
Neste dia
ninguém entrou pelo cano
Mas de
tardinha eles caíram fora
Em procura
da cidade de Tucano
Lampião convocou
o chofer Zé Rico,
Que se dizia
alagoano, e não baiano,
Para levar apenas
quatro cangaceiros
Para a vizinha
cidade de Tucano
Berenguer
também foi chamado
Para levar
os outros até Tucano
Mas ao
inventar “quebrar” o carro
Por pouco
não entrou pelo cano
A notícia do
carro “quebrado”
Deixou os cabras
sem ação
Uns se
encheram de dúvidas
Talvez mais
ainda o Lampião
Depois
ficaram sabendo
Que o padre
os enrolou
A partir
desse momento
A paz do vigário
se acabou
Tucano muito rico de água
E estradas de
muito barro
Aí Zé Rico
não conseguiu
Evitar o
atoleiro do carro
Deixou-se
tudo para o outro dia
Desatolar o carro
de José Rico
Era o que
Lampião mais queria
Depois de
tanta luta para viajar,
Um
verdadeiro sacrifício humano,
Finalmente o
motorista José Rico
Conseguiu
ver a cidade de Tucano
Em Tucano,
Demóstenes o entrevista
Para ambos
uma verdadeira glória
Graças aos
esforços deste jornalista
Escreveu-se
um capítulo da história.