segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Euclides da Cunha terra de ilustres


Por Celso Mathias  -  02 de novembro / 2019


Finados, um dia para reflexões, viajei no tempo trazendo à memória, pessoas e fatos que me acompanharão eternamente. Mãe, pai, o querido irmão Humberto, que partiu aos 23 anos e meu tio, quase um pai, José Mathias de Almeida Neto, meu referencial, meu amigo meu ídolo, ao ponto de ter, aos 14 anos, fugido de casa e de carona em caminhões, desembarcando em Vitória para encontrar o “Zequinha”- era assim que eu o chamava- àquela altura, já promotor de Justiça em uma comarca do interior do Espírito Santo.



 Euclides da Cunha terra de ilustres A aventura durou pouco. Uma semana depois, meu pai apareceu e me trouxe de volta a Euclides da Cunha. Dez anos depois, desembarquei novamente em Vitória, onde vivi os 25 anos mais importantes da minha vida e acompanhei a trajetória brilhante do tio Zequinha, que morreu aos 64 anos como desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo, despachando no mesmo edifício que hoje ostenta o nome dele: Fórum Criminal Desembargador José e Mathias de Almeida Neto.


 E o Zequinha, até a morte de minha mãe, em 1971, vinha frequentemente a Euclides da Cunha, trazendo uma mala de presentes para amigos e familiares, além de dezenas de caixas de Chocolates Garoto, uma marca do Espírito Santo. E cultivava muitas amizades fora círculo familiar. Apotâmio Batista, Zeca Dantas, Zé Aras e Nelson Bastos entre tantos outros.


Com Nelson Bastos, trocava presentes, em todas as visitas. Nelson lhe dava sempre uma garrafa de boa cachaça e Zequinha, um presente da capital do Espírito Santo.

 Para quem não conhece, Euclides da Cunha é uma cidade de 60 mil habitantes, segundo estimativa de 2019, localizada no semiárido baiano, a 311km de Salvador e é berço de ilustres personalidades que ocuparam e ocupam importantes espaços na vida nacional e, infelizmente, hoje estão esquecidos ou sequer, chegaram a ser conhecido pelos habitantes locais.


 Atualmente desembargador aposentado, Aloísio Batista chegou a presidente do TJ da Bahia e interinamente, por vacância dos titulares, a governador do Estado. No passado, Ramonaval Augusto Costa, nascido no então Cumbe do Major, veio a ser um dos mais brilhantes economistas do País e catedrático da USP. Durval Ferreira de Abreu que, por muitos anos, serviu no alto comissariado da OEA em Washington. Na mesma linhagem, o hoje fazendeiro na Chapada Diamantina, Elieze Bispo dos Santos, também é homem de brilhante carreira jurídica, tendo atuado, inclusive como desembargador do TRE baiano.














Ainda na ativa, podemos falar no advogado e ex-deputado Roque Aras, que embora não tenha nascido na cidade, tem fortes relações com a região, por conta do seu pai, José Aras, que viveu por muitos anos na cidade, foi o inspirador do nome Euclides da Cunha e autor da letra do hino oficial do município. José Aras, é avô do PGR Antônio Augusto Brandão de Aras.




 Sebastião Alves Ferreira dos Santos dos Santos foi o mais brilhante cidadão euclidense de sua era! - Ele nasceu na Rua da Igreja ao lado da casa de Antônio André. Filho do comerciante Nezinho de Hermógenes e da costureira Edite Alves, Sebastião teve uma carreira meteórica. Concluiu o curso ginasial no Educandário Oliveira Brito, o curso de Administração de Empresas na Fundação Getúlio Vargas, onde depois assumiu uma cadeira como professor titular, e fez o doutorado em finanças na Universidade do Texas. Morreu precocemente aos 44 anos de idade, ainda como diretor financeiro da Eletropaulo.



No centro da foto recente, Celso Mathias de Almeida, geriatra que aos 92 anos, ainda atende no seu consultório em Natal- RGN, onde foi professor da Universidade Federal e paraninfo de várias turmas de formandos em Medicina.


Já o médico José Silva Dantas Filho, o Dantinhas, ao Lado do Irmão, Luiz Carlos Nascimento Dantas, formou-se em Medicina pela Universidade Federal da Bahia e ambos se radicaram em São Paulo. Dantinhas em Itapetininga e Luiz na capital paulista. Dantinhas faleceu em Euclides da Cunha durante uma viagem que costumeiramente fazia à sua terra natal e hoje dá nome a um importante hospital de Itapetininga, merecido reconhecimento pelo brilhante profissional de saúde e cidadão que foi. Luiz, em plena atividade, é reconhecido anestesiologista disputado pelos mais importantes cirurgiões dos melhores hospitais de São Paulo, entre eles, o Sírio Libanês. E mais que isso, é reconhecido como cidadão extremamente prestativo especialmente com euclidenses que bateram â sua porta em busca de orientação médica.

















 E vocês lembram do Nelson Bastos, o amigo do Des. José Mathias de Almeida Neto citado no início dessa narrativa? Nelson é avô do jovem juiz de direito Fábio Alexsandro da Costa Bastos, atual assessor especial da 2ª vice-presidência do Tribunal de Justiça da Bahia. Fábio também é neto, pelo lado materno, do saudoso líder político e comerciante, Custódio Sabino da Costa, contemporâneo e amigo irmão de José Aras.


 Fábio já está incluso nessa lista de euclidenses ilustres, por conta de um currículo exemplar: colou grau em Direito pela UFBA em fevereiro de 1997 aos 24 anos de idade. No mesmo mês recebeu a carteira da OAB e, enquanto exercia a advocacia, debruçou-se sobre os livros. Na Escola de Magistrados da Bahia (EMAB) fez inicialmente o Curso de Preparação para a Carreira Jurídica seguido de vários outros que lhe permitiram ser aprovado com louvor no concurso que o fez Juiz de Direito em 16/04/1999, menos de dois após a colação de grau e aos 27 anos de idade. Juiz da 19ª Vara Cível de Salvador. Foi também, por dois biênios, desembargador do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia e o corregedor Regional Eleitoral da corte. É casado com a juíza Bárbara Correia de Araújo Bastos e, pelo respeito e trânsito que goza nos meios jurídicos da Bahia, é uma figura da qual os euclidenses e até os baianos podem esperar muito!

 Revista Vida Brasil


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domingo, 15 de setembro de 2019

Hino de Euclides da Cunha - INSTRUMENTAL






Com esforço e dedicação conseguimos, pela primeira vez, gravar o Hino de Euclides da Cunha na forma Solo (INSTRUMENTAL). Agradecemos a todos que colaboraram para essa preciosa obra de JOSÉ ARAS

 Músicos:
Bandolim: Ney Campos
Tuba (solo): J. Tuba.          - midi
Piston: Crisinho
Violão: Cinquentinha 7 Cordas
 Flauta: AdriFlutes           . - midi
Baixo: Mi Oliveira
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Idealização: Ney Campos (MuseuDoCumbe)

Apoio: Henrique do Acordeon
Colaboração: Ohniram Marinho



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Patrocínio:

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 Gravação: StudioN Produções



https://www.youtube.com/watch?v=LcRAhEDx5Yo




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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Cumbenses que se destacaram com a chegada de Lampião





Por Dionísio Nóbrega



CORONEL DEDÉ DE ABREU

       

    Meu tio avô materno Quinquim Paranhos (Joaquim Paranhos de Abreu) me contou no inicio da década de 1980 que o irmão de sua mãe Petitinha, José Esteves de Abreu (mais tarde conhecido por Coronel Dedé de Abreu) se encantara com D. Francisca Maria Araujo dos Santos (filha de Manoel Anacleto dos Santos, da fazenda Morrinhos), que em 1884 enviuvara de Manoel Alexandre da Fonseca (morador na fazenda Caixão, não muito distante da serra de Piquaraçá), apelidado de “Banqueiro das Caatingas” por emprestar dinheiro a muitos fazendeiros da região.







Edmundo Esteves
          

  Ioiô da Professora e Zé Dantas, primos carnais, me diziam que o meu tio-bisavô Dedé de Abreu, de olhos alaranjados, fez de tudo para se casar com a avó deles, mãe de Leolino, D. Balbina, Maria Lima (mãe Lali, esposa do Intendente Joaquim de Carvalho Lima, nomeado em 1915 pelo então governador José Joaquim Seabra), Apolinário e Hermógenes ( pai do sogro do senador Otto Alencar). Após receber vários “nãos”, e quase desenganado, Dedé de Abreu decidiu ir à Bahia (naquele tempo não se dizia “ir a Salvador”) para pedir ajuda a uma mãe-de-santo de um candomblé. Voltou satisfeito e otimista por ter recebido de presente um pó para que a viúva rica tomasse como remédio. Contavam os dois primos que, depois de ingerido o pó, a sua vovó mudou de opinião: aceitou que Dedé de Abreu a levasse ao altar. Com esse casamento a vida do tio de meu avô materno Dedé Paranhos (José Paranhos de Abreu) mudou radicalmente, tornando-se de repente coronel da Guarda Nacional e dono de vários sítios e fazendas, sendo as três seguintes, do ponto de vista histórico, as principais: Angico (principalmente a parte baixa do Salgado), onde o Coronel Tamarindo (substituto do Coronel Moreira César) teve a cabeça decepada por jagunços de Antônio Conselheiro. Quando eu perguntava a Dandá, a João de Rege, a João Butão, a Damião de D. Cerila e a outros sobre quem poderia ter executado a “demoníaca encenação”, como disse Euclides da Cunha, de espetar com estaca pelo ânus o cadáver de Coronel Tamarindo, todos apontavam Serafim da Barriguda como autor provável da façanha, ainda mais que o arcabouço do coronel fujão achava-se no Salgado, perto da serra do Angico, em área de atuação do famoso jagunço; Araçás, visitada no inicio de março de 1897 pelo malvado Coronel Moreira César da 3ª Expedição de Canudos e muitos anos depois (15 de dezembro do 1928) por Lampião e 7 cangaceiros; Caldeirão Grande, onde houve o casamento do Capitão Dantas com D. Balbina celebrado  em 02 de maio de 1896 pelo Juiz de Paz monte-santense César Berlamino Cordeiro de Andrade, com todo o apoio do Coronel Dedé de Abreu, e, no ano seguinte, a caminho de Canudos, acampará para descansar o futuro autor de “Os Sertões”: Euclides da Cunha.
          
  Coronel Dedé de Abreu, após enviuvar de Dona Francisca (sogra do Capitão Dantas), conviveu alguns anos com Dona Maria Dantas da Silva, conhecida como Maria de Joaninha em homenagem à mãe Joana Alexandrina do Nascimento, esposa de Oseas Mendes do Nascimento, bisneto do Capitão Manoel dos Santos Pereira Lobo Portugal, o homem que enriqueceu o velho Cumbe, o Tucucuru e o Aribicé produzindo uma vasta geração de descendentes ilustres.
            Edmundo Esteves de Abreu tocando o seu bandolim (foto ao lado)

       Edmundo de Olguinha ganhou os sobrenomes Esteves de Abreu do pai  Coronel Dedé de Abreu. O genro de Belarmino Augusto Campo (Belo Campos), grande e eterno músico, foi o homem que mais alegrou o povo de Cumbe do Major Antonino. 


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                               IOIÔ DA PROFESSORA




Por Dionísio Nóbrega
 


   Dos 3 primos carnais que ganharam o apelido de Ioiô, o primeiro sem duvida foi João Siqueira Santos, meu mestre e amigo, consagrado como Ioiô da Professora, numa justa homenagem à sua mãe Erotildes Siqueira, natural de Saubara, que veio de Salvador para dar aulas às meninas contemporâneas de D. Maroca, primogênita do Capitão Dantas.
    No início de 1904, preocupado com a educação primária da filha que se aproximava dos 7 anos, o Capitão Dantas, que ainda nem sonhava em ser candidato a intendente, empenharia todos os esforços no sentido de trazer para Cumbe uma professora competente, diplomada numa boa escola da capital da Bahia. Para essa empreitada obteve o apoio do então intendente coronel Arsênio Dias Guimarães. O sergipano Capitão Dantas fez tudo isso como um simples cidadão que desejava o melhor para a sua família e o povo da querida terra do Cumbe, escolhida por ele para nela viver até o final da vida.
    Com pouco mais de um ano, a primeira professora formada casa-se com Leolino, irmão de D. Balbina, esposa do Capitão Dantas, e vai morar na casa histórica  onde oficiais da 3ª Expedição do Coronel Moreira César repousaram um pouco antes de serem massacrados em Canudos. Professora Erotildes (Dona Filinha) teve 10 filhos, sendo o quarto filho (Ioiô da Professora) o mais destacado de todos eles, homem de múltiplos talentos, exímio contador de casos.
    Ioiô da Professora contava que Lampião comprou perfume marca “cigália” a Rogaciano (primogênito de Leolino e da Professora Erotildes) e a João Macedo (filho de Felisberto Macedo Primo e Maria Olinda de Macedo) na Praça da Feira, também conhecida por Praça do Barracão, hoje Duque de Caxias.
    Segundo Ioiô, Luis Ferreira do Nascimento, intendente de Cumbe nesta ocasião, conhecido simplesmente por Seo Lua, ofereceu a Lampião hospedagem em sua pensão, mas o Rei do Cangaço preferiu a acolhida de outro Luis, o Luis Caldeirão, então Delegado de Policia, já casado com Dona Neném desde 07 de janeiro de 1925.
    Neste 15 de dezembro de 1928, Ioiô da Professora, além do artigo do capitão Hercílio Luz, leu e deu de presente para Lampião jornais – Diário de Noticias e A Tarde – que noticiavam sobre o grande chefe do cangaço, do qual Ioiô ganhou confiança. A partir de então, o grande contador de histórias, filho da primeira professora formada de Cumbe, passou a lhe fornecer qualquer publicação que tratasse de suas façanhas cangacerísticas.
    Quase 7 anos após ter conhecido Lampião, Ioiô da Professora casa-se com D. Isabel, filha do coronel da Guarda Nacional e intendente de Cumbe em dois mandatos (Potâmio Américo de Souza), da qual nasceu apenas uma filha, Ederlinda (Edi). O casamento do filho da primeira professora formada de Cumbe foi celebrado pelo vigário da paróquia de Pombal (hoje Ribeira de Pombal ) - Padre Zacharias Cerqueira Mato Grosso - em 6 de junho de 1935 (dia da Santíssima Trindade), na histórica fazenda Ilha do Distrito de Massacará, onde os ancestrais (avós e bisavós) do seu sogro Potâmio foram por muitos anos  donos da terra.
    Pensava-se que Ioiô da Professora fosse reerguer o império patrimonial da família Camelo da esposa Isabel, ou até superar o patrimônio deixado por seu avô Manoel Alexandre da Fonseca, cognominado “Banqueiro das Caatingas”. Pelo contrário, Ioiô de Leolino passou a maior parte da vida, através da oralidade, dedicando-se à história de sua terra (Cumbe do Major Antonino), de Canudos e de Lampião e seus cangaceiros.





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                  JOAQUIM MENINO E PAI TATIM









 Joaquim Menino (Joaquim Santana Lima) sentia no sangue o desejo de fazer alguma coisa por sua terra. Ainda criança, aos 6 anos incompletos viu o pai José Joaquim de Santana (José Caldeirão) e o tio Joaquim de Carvalho Lima, irmão de sua mãe Ana Francelina de Carvalho, comemorarem o resultado da primeira eleição de Cumbe realizada em 26 de fevereiro de 1899, da qual saíram eleitos como membros do Conselho Municipal (dir-se-ia, hoje, vereadores). O outro tio, Francisco de Carvalho Lima, conhecido por Francisquinho e, no meio familiar, por Titô (pai de Dona Rolinha de José Camerino), preferiu dedicar-se como funcionário do Fisco estadual. Segundo Joaquim Mathias, Titô era o homem de mais respeito no Cumbe.
Do ponto de vista administrativo e politico, o nome mais destacado dos descendentes de Balthazar Lima,  a partir da década de 1920, foi incontestavelmente o de Joaquim Menino. Zé Dantas de D. Balbina e Ioiô da Professora atribuíam o “sobrenome” Menino ao fato de ser pequeno no tamanho e bem mais jovem do que o tio quase homônimo – Joaquim de Carvalho Lima –, conhecido no meio familiar e também no ambiente político pelo apelido de “Pai Tatim”, intendente de Cumbe no período de 1915/1917.


Se Lampião tivesse chegado a Cumbe dois anos antes de 15 de dezembro de 1928 poderia ter conhecido Joaquim Menino no cargo de intendente municipal. Como ainda não havia estrada para carros em direção a  Monte Santo, Padre Berenguer e o motorista Zé Rico não teriam passado por tantos problemas.


Duas obras marcaram a administração do penúltimo Intendente do Cumbe Joaquim Menino: a volta do Barracão da Feira da Rua da igreja para a Praça Nova, hoje Duque de Caxias, e a construção da estrada de Cumbe a Monte Santo, com o apoio e prestigio político do Pe. Berenguer: Joaquim Menino construiu parte da estrada até a fazenda Garrote e Berenguer até Monte Santo.
Para cumprir o contrato com o Pe. Berenguer, Joaquim Menino arranjou 50 homens para fazer a estrada passando pelas costas da fazenda Jiboia, que foi inaugurada em 1927. Para comemorar o evento, Pe. Berenguer solicitou ao arcebispo para abrir uma Santa Missão, primeiro em Monte Santo e logo depois no Cumbe. Os primeiros carros que entraram no Cumbe pela nova estrada pertenciam a estes padres da Santa Missão de 1927. Veio também um caminhão de Itiúba cheio de gente. Berenguer hospedava-se com Joaquim Menino.
Como Intendente, Joaquim Menino mandou botar uma dúzia de lampiões na Rua da Igreja onde morava só gente grande, a “nata”, era um poste com um vidro dentro do qual um candeeiro a carbureto a primeira iluminação pública de Cumbe.
Ninguém da família Lima deixou mais descendentes (filhos) do que Joaquim Menino. Com a primeira esposa Maria Garcia de Araujo (Dona Gracinda) só nasceram quatro: Glória, casada com Joel de Carvalho (oficial de Justiça da Bahia); Arlinda, segunda esposa de Belo Campos; Rosália, casada com Viriato Maia Bittencourt; e Ildefonso (combatente da 2º Guerra Mundial). Com a segunda esposa, nasceram 10; Petrônio, Zezé, Anete, Aleida, Marli, Lurdinha, João, Gerson, Toinho e Kaká.
Joaquim Menino, dez anos depois de eleito Intendente, torna-se o terceiro prefeito (eleito para o período 1935 a 1937). O primeiro, nomeado em 1930, foi o Coronel José Esteves de Abreu (pai adotivo de Edmundo e Catarina); o segundo, nomeado em 19 de setembro de 1933, José Camerindo de Abreu.








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 Por Dionísio Nóbrega

LUÍS SANTANA LIMA

                                    (Luís Caldeirão)

     As terras avermelhadas de Cumbe, que faziam parte do Sitio Gameleira, nunca foram

bem valorizadas, talvez pela inexistência de olhos d’água ou por estarem distantes dos rios Vaza-Barris e Itapicuru.
    No seu entorno havia algumas casas, uma até distante da outra. Mas com a influência da família Reis de Manoel Felix e dos filhos Major Antonino e Helena Maria de São Felix, a coisa mudou. Ao enviuvar, Manoel Felix dos Reis passou a visitar com mais frequência os amigos de Monte Santo, principalmente os “Carvalho Carregosa” do Jenipapo e os “Lopes” e “Moura” da região do Acaru. Resultado: terminou achando uma Lopes Guimarães que o tirou da viuvez. E a filha Helena disse sim, com o consentimento da família, ao pedido de casamento de Manoel Ferreira de Carvalho, nascido na Fazenda Jenipapo (Monte Santo) do pai Antônio Ferreira de Carvalho Carregosa. E foram morar no Curirici dos “Alves de Souza” e dos “Reis” de Manoel Felix para logo depois começar a pensar na possibilidade de construção de uma casa próxima da serra do Cumbe. Clara Francelina de Carvalho, também filha do proprietário da fazenda Jenipapo, com o apoio do marido Balthazar Francisco Lima, também desejou edificar uma casa perto da do irmão.
    Ubaldino, sobrinho-neto do Coronel Dedé de Abreu, me contou inúmeras vezes que ouvia muito do pai Jerônimo a história da primeira casa do Cumbe, construída onde hoje é a Rua da Igreja por Manoel Ferreira de Carvalho (cunhado do Major Antonino). Ioiô da Professora concordava em parte com Ubaldino Abreu, mas acrescentava um detalhe interessante ao afirmar que a primeira casa da Rua da Igreja e a primeira da Rua de Cima (por muitos anos conhecida por Rua do Balthazar ou Rua dos Lima) foram construídas concomitantemente.
    Nesta casa do primeiro Lima irão nascer da barriga de D. Clara Francelina de Carvalho apenas 3 filhos: Joaquim, Francisco e Ana, que, ao se casar com José Joaquim Caldeirão, presenteará ao mundo uma penca de 8 filhos: o primogênito: Luis Santana Lima (Luis Caldeirão), casado com Dejanira Dantas (Dona Neném); o segundo: Maria de Santana Lima (Maricota), casada com Apolinário Manoel dos Santos; o terceiro: Antônia, primeira esposa de Apromiano Alves Campos; o quarto: Joaquim Santana Lima (Joaquim Menino), casado duas vezes, com Maria Garcia de Araujo (Dona Gracinda) e com Emilia Dantas (Dona Nazinha); o quinto: Adelaide, com Isaias Manoel dos Santos; o sexto: Alexandrina, primeira esposa de Belarmino Augusto Campos (Belo Campo); o sétimo: Clara (Dona Clarinha), com Antônio da Silva Dantas (Totonho Dantas); o oitavo: João de Santana Lima (Joãozinho, o caçula, solteiro, falecido com 26 anos em 06/07/1933).
  

  Dos filhos naturais com Maria Dantas da Silva (Dona Maria de Joaninha, do Banzaê), Luis Caldeirão só reconheceu Edson de Lima Dantas (nascido em 13 de novembro de 1915). Anos depois, em 1925 casou-se com Dona Neném, que lhe presenteou meia dúzia de filhos: Anice, Raimundinho, Naide, Zelito, Antônio Luis, Lulu.
    Foto do Capitão Dantas segurando a mão de duas filhas: Maroca (primogênita) e  Elvira. Dona Balbina, ao lado do filho Totonho Dantas.
    Atrás, a babá segura Dejanira (Dona Neném), futura esposa do Delegado Luiz Caldeirão que hospedou Lampião na casa mais histórica de Cumbe, infelizmente hoje em estado de destruição.







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JOAQUIM MATHIAS DE ALMEIDA

Por Dionísio Nóbrega

 

   Não temos  prova, mas cremos que o Almeida de Joaquim Mathias seja o mesmo do sogro de Manoel Batista de Macedo, da Lagoa do Barro, que se chamava José Martins de Almeida, cujo filho primogênito Francisco Martins de Almeida (irmão da mãe de Lili de Apromiano, da mãe de Neluzinho, da mãe de Mariinha de Dedé Paranhos e de muitos outros) teve como empregado na sua grande loja comercial da “Rua da Igreja” o ainda jovem, menor idade, Joaquim Mathias de Almeida.
  

  Antônio Curato (muitos ainda dizem Corato), pai da sua mãe Rosa Maria (esposa de José Mathias de Almeida), exerceu por longo tempo a função de carteiro ou mensageiro entre Monte Santo e a Freguesia de Massacará então pastoreada pelo Cura ou pároco Vicente Sabino dos Santos, muitos anos depois primeiro vigário de Cumbe.
    Quando Lampião entrou em Cumbe em 15 de dezembro de 1928, o filho do casal Joaquim Mathias e Dona Amélia Pinheiro de Andrade (depois Almeida), José Mathias de Almeida Neto, futuro Desembargador do Estado do Espirito Santo, contava 2 meses e 21 dias de nascido, ou seja, veio ao mundo no dia 25 de setembro de 1928, num sábado, às 10:00 da noite, no Torrão do Cumbe. Segundo Celso de Jaime Amorim, neto de Joaquim Mathias, nasceram outros filhos: José Delço de Almeida, Railda Matias de Andrade (depois Lopes), Mariá Matias de Almeida (depois Amorim) e  Raimunda Matias de Almeida, apelido Dazinha, falecida um pouco antes ou depois dos 20 anos.
    A “Rua da Igreja” de Cumbe, também conhecida por “Praça da Matriz” já foi palco de muitos fatos históricos. Do mais chocante de todos, os cumbenses (hoje euclidenses) já quase não se lembram. Trata-se do “Fogo do Calêncio” ocorrido em 1917 entre Joaquim Mathias e João Calêncio Vilanova. O combate durou várias horas, tendo Joaquim Mathias se comportado com bravura. O cheiro da pólvora tomava toda a Praça da Matriz. Dizia Ioiô da Professora  que um dos homens do Calêncio, já no final da batalha, recebeu um tiro fatal quando passava bem próximo da casa de rancho de Manoel Batista de Macedo, vizinha à residência onde mais tarde morará o seu filho Benjamim Batista de Macedo (pai de Rozendo e Benjamim, acadêmicos de ALAS). Mas só caiu morto poucos metros adiante, bem em frente da casa onde residirá a família de Nelson Bastos. Foi com o “Fogo do Calêncio” que Joaquim Mathias entrou na história de Cumbe como um herói.
    Quando Lampião mandou Manoel do Araçá entregar o tradicional “bilhete” a Joaquim Mathias exigindo-lhe educadamente dois contos de réis e voltou de mãos vazias, ninguém de Cumbe estranhou. Manoel do Araçá trouxe a resposta de Joaquim Mathias para Lampião: “Não vou mandar dinheiro não/Faço questão: eu mesmo levo/Eu quero conhecer o Lampião!”.
    Muitos anos depois Joaquim Mathias torna-se um dos mais respeitáveis Delegados de Polícia do Cumbe do Major Antonino.






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Por Dionísio Nóbrega








 JOSÉ DA SILVA DANTAS (ZÉ DANTAS)


 

   Zé Dantas é o sexto filho do Capitão Francisco da Silva Dantas, contemporâneo, amigo e primo carnal de Ioiô da Professora. Ambos tinham 19 anos quando conheceram Lampião, o Rei do Cangaço, em 15 de dezembro de 1928, num sábado, dia de feira. Foi nesse ano que Zé Dantas comprara a bodega ao Sr. Pequeno, futuro sogro do advogado provisionado Teago Ferreira de Carvalho (sobrinho–bisneto de D. Clara Francelina de Carvalho, esposa do primeiro Lima de Cumbe de nome Balthazar Francisco Lima). Essa casa comercial, situada na Praça do Barracão ou Praça da Feira, antiga Praça Nova, hoje oficialmente Duque de Caxias, serviu de palco para a farra de Lampião e os 7 cangaceiros. Segundo Ioiô da Professora e o próprio Zé Dantas, a histórica bodega ficava entre a Coletoria Estadual e a casinha de negócios de Emídio José Severo, soldado por muito tempo, pai de Dona Eurides de João Costa, de Huguinho e de Zulmira, casada com o famoso Valdo que, quando morou em Feira de Santana, adorava desfilar pelas ruas e avenidas.
  

 Viúvo da prima carnal D. Nair, que lhe deu um grande filho, Osvaldo (Vavá), Zé Dantas não demorou muito em conhecer a sergipana de Itabaianinha D. Luci que, com a mãe D. Acydália, deixa a sua cidade natal para morar no Cumbe, lugar onde o pai residia e já era estabelecido como comerciante além de ter exercido o alto cargo de intendente. Da união de Zé Dantas com D. Luci nasceram Dantinha, Gildo, Luis, Neide, Nilda, Fátima e Tonheco. Maiores detalhes encontram-se no livro “Capitão Dantas e os Três Ioiôs de Cumbe”.
    Na época em que se abria a estrada que hoje se chama BR-116, Zé Dantas foi designado como apontador da IFOCS (Inspetoria Federal de Obras contra Seca) no trecho Cajueiro a Tucano. Para tomar conta de sua loja de secos e molhados, acabou convidando o irmão Joaquim Silva Dantas (Ioiô Dantas), de 12 anos de idade. E tudo correu muito bem, inclusive já conhecia a dedicação e a seriedade do irmãozinho. Totonho, o segundo filho do Capitão Dantas, propôs a Zé Dantas formar uma sociedade, juntando os tecidos de um com os secos e molhados do outro. Não tardou o pai de Tonheco do Hotel Lua em comprar a parte do irmão, mantendo Ioiô Dantas como gerente-mirim.
    Quando Joaquim Menino, genro de Seo Dantas (Capitão Dantas), voltou pela segunda vez ao comando da politica de Cumbe, como prefeito eleito, no tempo do governo constitucional de Getulio Vargas, de Juracy Magalhaes, no âmbito estadual,  nomeou como Secretário da prefeitura o cunhado José Dantas (Zé Dantas), que permaneceu pouco tempo no cargo.
    Durante a curta gestão de Doutor Mário Rocha como prefeito de Cumbe, Zé Dantas volta a ser Secretário da prefeitura com apoio de José Camerindo de Abreu.

  

 Foto tirada na comemoração do aniversário de Seo Lua (Luís Ferreira do Nascimento, último intendente de Cumbe), que não demorou a ser perseguido por Lampião em Massacará. Ao seu lado, a esposa Dona Acydália, sergipana de Itabaianinha(SE), que estão acompanhados da filha Luci e do genro Zé Dantas e seus parentes, dos netos, crianças e de muitos amigos e admiradores.

















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     JOÃO MACEDO E ROGACIANO DE LEOLINO
 

Por Dionísio Nóbrega

  

 Em frente da antiga Igreja N.S. da Conceição de Cumbe, da esquerda para direita, estão na foto Rogaciano (irmão de Ioiô da Professora), de terno branco, primogênito da Professora Erotildes, esposo de Mariá, genro de Zé Cabrito; João de Macedo Primo (nascido a 18 de maio de 1902, às 22:00h, na Lagoa do Barro), de mão cruzadas, genro de Rozendo Ferreira Primo, casado com Ana Virgilina Primo (nascida em 20 de agosto de 1903 na Fazenda Riacho d’Água, apelidada de Menininha); rapaz de branco não identificado; Zé Dantas, de terno branco, filho do Capitão Dantas, cunhado do Delegado Caldeirão; e por ultimo, Apolinário Manoel dos Santos, tio de Dejanira  (Dona Neném, esposa do Delegado Caldeirão), e também de Rogaciano.
    João Macedo foi criado pela tia Tarcila (Otacília Olinda de Macedo), filho de Felisberto Macedo Primo (Beto), bisneto paterno de João Silvestre Pereira da Miranda, de Tucano, do qual descendem o ator Othon Bastos e também Nelson Bastos de Maria Elisa. A mãe de João Macedo, Maria Olinda de Macedo, era irmã de Josina de Manoel Batista, da Lagoa do Barro, irmã da mãe de Dona Quiló, irmã de Raquel (casada com o italiano Giovanni Femminela), irmã da mãe de Sezinando, irmã da mãe de Lili de Apromiano, irmã da mãe de Neluzinho, irmã do pai de Dona Edite de Zé Lourenço, irmã de Francisco Martins de Almeida, com quem Joaquim Mathias começou a trabalhar, irmão do vereador Luis Martins de Almeida (tio materno de Benjamim Batista de Macedo).
  

 José Macedo Primo (irmão de João Macedo), casado com uma irmã de Benjamim Batista de nome Joana Olinda de Macedo, avós de Mundinho Doido, vendeu a Lampião um chapéu “Mangueira” por 25$000 réis, e o “rei dos Cangaceiros” deu o seu chapéu de couro a Armando Hilário (Manohilário), só que tirou todas as peças (testeira, etc).
    João Macedo deixou a sua terra de Cumbe para viver até o final da vida em Vitória da Conquista ao lado da esposa Menininha e de uma penca de filhos (duas mulheres, Dadinha e Zitinha), e 4 homens: Edmilson, Edilmo (Ferreira), Edgar e Mirinho).




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terça-feira, 21 de maio de 2019

Juviniano Gomes dos Santos



Juviniano, como era conhecido, era natural de Canudos-BA, quando este ainda pertencia ao Município de Euclides da Cunha, na condição de Distrito.

Filho de Pedro Gomes dos Reis e Juvina Possidônia dos Santos, logo após concluir o curso primário (atual ensino fundamental), aprendeu o ofício de alfaiate e, nesta profissão, ficou por cinco anos, quando ingressou no serviço público, como funcionário da Secretaria da Fazenda, onde ficou por um ano.

Em sociedade com o amigo Genaro Rabelo, abriu uma farmácia em Canudos e, no ramo farmacêutico permaneceu até 2010, quando encerrou esta atividade à frente da Farmácia Estrela, na Rua Oliveira Brito, em Euclides da Cunha.

Na década de 1950 a 1960, mudou-se para Euclides da Cunha, onde foi morar com o político Antônio Baptista de Carvalho, um conterrâneo de prestígio junto à população euclidense.

Pararalelo à sua atividade comercial dedicou-se à agropecuária. Pessoa de fino trato, sua simpatia muito contribuiu para o sucesso na carreira política, ao ser eleito para o cargo de vereador, sempre com votação expressiva e por três mandatos, apesar de sua aparente sisudez.



Juviniano ganhou prestígio e cacife que os levaram ao cargo de prefeito municipal, cujo mandato foi marcado por obras de infraestrutura e serviços relevantes, como o Hospital Municipal Atônio Carlos Magalhães, com capacidade para 45 leitos, que melhorou consideravelmente o atendimento médico aos euclide
nses e, também, de pessoas de outros municípios que não disponibilizavam desse tipo de serviço essencial. Ainda na área da saúde pública, construiu oito minipostos de saúde no interior do município e um posto médico na sede.

Na Educação, ampliou a rede escolar de 70 para 250 salas de aula, fez melhoramentos no Educandário Oliveira Brito (construiu salas de aula e uma quadra para práticas esportivas); além de vários prédios escolares no município.

Para melhorar os serviços educacionais, instalou e deu apoio aos programas desta área que existiam naquele período: HAPROL, LOGOS, LBA, voltados para a qualificação dos professores e melhoria do ensino público, de combate ao analfabetismo, entre outros.

Para melhorar o saneamento básico da população construiu o Matadouro Municipal, ampliou o serviço de abastecimento d’água nos distritos de Caimbé, Aribicé e no então distrito de Massacará; além da construção de uma barragem no distrito de Ruylândia e provimento de água para a localidade de Mutambinha, beneficiada com a perfuração de um poço artesiano. Serviços executados com recursos provenientes do PIS.

Em seu governo trouxe para Euclides da Cunha, órgãos importantes do Governo do Estado, como: EMARTERBA (atual EBDA), INTERBA, Projeto Sertanejo (combate à seca executado pelo DNOCS), TELEBAHIA (atual OI), 14ª CIRETRAN, LBA. Este teve as suas atividades ampliadas para atender ao Projeto Casulo, voltado para o menor carente e, ao Projeto Conviver, de amparo aos idosos. Caixa Econômica Federal e Banco Mercantil de São Paulo foram trazidos para Euclides da Cunha, em sua gestão. Construiu o Fórum Des. Artur César Costa Pinto, onde atualmente está instalado o Juizado de Pequenas Causas.

Inauguração do Hospital ACM



Preocupado com as famílias pobres e sem teto, Juviniano por meio de convênio com o Governo do Estado (URBIS), implantou um conjunto habitacional com 360 moradias, batizado com o nome de Nossa Senhora da Conceição (também conhecido como Casas Populares), além de adquirir uma área para construção de mais 360 casas.

ACM: recepção no Campo de Aviação

Urbanizou a Praça Roberto Santos, abriu ruas e pavimentou várias delas. Junto ao Governo do Estado conseguiu a estrada que liga o atual aldeamento de Massacará à Cidade de Cícero Dantas, rodovia BA 220, que está sendo pavimentada com asfalto pelo governo estadual, com recursos do Governo Federal.

Em seu governo, Juviniano não se esqueceu do lugar onde nasceu, pois trabalhou fortemente na agilização do Projeto de Emancipação Política do Distrito de Canudos, fato que se concretizou em 1985, com a eleição para prefeito do médico Manoel Adriano Filho, com o seu apoio.

Juviniano também entrou para o folclore político de Euclides da Cunha, com várias histórias sobre suas andanças pelo município, especialmente nos períodos de eleições. A maioria voltada para sua habilidade política e a forma simplista como lidava com as pessoas, principalmente aquelas que eram consideradas “adversárias” e quase sempre terminava com a conversão das mesmas para o seu partido político.

Aos 78 anos de idade, já aposentado de sua atividade comercial, porém, à frente de seus negócios voltados para a agropecuária, Juviniano foi diagnosticado como portador do mal de Alzheimer, (doença degenerativa que afeta o sistema neurológico, principalmente), que culminou com a sua morte, no último dia 04 de junho, às 17h30, em sua residência, onde sempre teve o carinho e o zelo de sua esposa Dulce Santos e seus filhos Marília, Murilo, Márcio e Marcelo, além de os muitos amigos e amigas que o visitavam, sempre.

Esse grande líder político, que teve o seu nome emprestado ao Centro Educacional do povoado de Pinhões, foi sepultado no Cemitério Municipal de São José, num cortejo fúnebre marcado pelas presenças de centenas de amigos e amigas, lideranças políticas de Euclides da Cunha, Canudos, Tucano, Monte Santo, Quijingue, Salvador, entre outros.


Por tudo que fez em Euclides da Cunha, Juviniano já é parte importante da nossa história contemporânea e merecedor de todas as homenagens póstumas que lhes forem prestadas. Era e sempre será uma alma boa. Perdeu a política um grande quadro.”

Colaboração/texto: Marina Remígio 



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terça-feira, 15 de janeiro de 2019

FRAGMENTOS


Revista Vida Brasil
www.revistavidabrasil.com.br


Por Celso Mathias

 E, no Café Society, enquanto mastigava caramelos de café com leite, assistia a meu pai ingerir sua dosinha de Jurubeba para forrar o estômago antes da Brahma gelada. Olhava para o outro lado da Avenida e enxergava o espetacular Hotel Lua, para mim, um dos lugares mais importantes da cidade, pois, lá, eu sentia a conexão com o mundo, através dos seus ilustres hóspedes: os viajantes. Lá, também morava Zeca Dantas que, vez por outra, atravessava a avenida e vinha até o Café Society...

 Mordi aquele pãozinho dourado, crocante, e viajei de mala e cuia para Euclides da Cunha. Fui parar em um ensolarado fim de tarde sentado ao batente de “O Crediário”, para quem não sabe a primeira loja de eletro-domésticos da cidade. E olha que, naquele tempo, sequer existia essa expressão. “O Crediário” vendia de tudo. Fogão, Geladeira, rádio Zilomag, porta de aço, bateria Heliar e até tratuá que nada mais era do que o piso externo de origem francesa, corruptela de “trottoir”, palavra que, hoje define uma atividade não tão nobre.


Do outro lado da “imensa avenida”, era assim que eu a enxergava até ali pelos meus 10 anos, estava a padaria de João Costa, o produtor daquela delícia que, até hoje, frequenta a minha memória gustativa. João Costa, além de padeiro, era também, delegado de polícia. Um homem alegre, inteligente e de uma impressionante velocidade de raciocínio. Naquela época, era assim! Os mais importantes cidadãos eram os comerciantes. Era também padeiro, o RaimundoThomaz, ainda vivo e saudável, aos quase 90 anos e à frente dos seus negócios que dizem ser grandes.

 O dono de “O Crediário” era meu pai, Jaime Amorim, que todos os dias, ao final da tarde, ordenava ao Dedé de Tutu ou ao Chico da Judite “Chico, vai ali ao João Costa e traz seis amanteigados”. Eles eram ajudantes do meu pai. O amanteigado era o pão quentinho feito pelo João Costa e untado com uma generosa quantidade de manteiga “Radiante” que era aplicada ao pão com uma espátula de madeira. O Dedé, hoje, deve ser um homem com cerca de 60 anos e vive em São Paulo. O Chico foi brutalmente assassinado em um dos becos da cidade, com menos de 20 anos de idade. Era um sujeito espirituoso -e um piadista nato. Sua morte causou imensa consternação.

 O sol escaldante desaparecia no fim da tarde e, a noite começava no Café Society ou Bar de Zezito como preferiam outros. O Café Society ficava na esquina da “Grande Avenida”, a Oliveira Brito, com a Praça Duque de Caxias, então apelidada de “Praça do Pau de Oliveira Brito”. Quem conhece a história da cidade sabe o porquê do apelido. Quem não conhece não pergunte porque não vou explicar, mas posso garantir que não tem nada de imoral.



 Foi o Zezito do Belo, ou Zezito do Bar ou Zezito do Alto-falante quem deu esse apelido à praça. Ele foi um homem à frente do seu tempo. Fundou o primeiro cinema da cidade, o primeiro serviço de alto-falantes, foi proprietário de um dos primeiros automóveis e, ainda por cima, em pleno sertão baiano, onde há pouco tempo Lampião passara semeando brutalidade e terror, inaugura um bar cujo nome é Café Society, expressão em voga no jet set mundial.


 E, no Café Society, enquanto mastigava caramelos de café com leite, assistia a meu pai ingerir sua dosinha de Jurubeba para forrar o estômago antes da Brahma gelada. Olhava para o outro lado da Avenida e enxergava o espetacular Hotel Lua, para mim, um dos lugares mais importantes da cidade, pois, lá, eu sentia a conexão com o mundo, através dos seus ilustres hóspedes: os viajantes. Lá, também morava Zeca Dantas que, vez por outra, atravessava a avenida e vinha até o Café Society beber cerveja, abrir o sorriso largo e a gargalhada estridente brindando com o não menos ilustre, o sobrinho Nelson Bastos. Zeca Dantas se foi aos quase 100 anos. Também longevo, Nelson, aos 93, ainda passeia espigado pelas manhãs euclidenses.


 Mas não era só o Hotel Lua que fazia a minha conexão com o mundo. Zezito, também! Com seu automóvel, seu serviço de alto-falantes e seu
“Night Club”. Isso mesmo, além do Café Society, ele era dono de um legítimo Night Club em Euclides da Cunha nos anos 60,carinhosamente chamado de “Naiti”. Para completar, fundou o cinema que, em seguida, venderia para Jonas Abreu.






 Jonas Abreu viveu e morreu para o cinema, para a família e para os amigos, não necessariamente nessa ordem. Foi no cinema dele, que assisti a um clássico do cinema mundial, ,Hiroshima Mon Amour, do cineasta Francês Alain Resnais. Era na casa dele que todos íamos, às tardes de domingo, ouvir, na moderníssima radiola Zilomag, o som de Miguel Aceves Mejia, Bienvenido Granda e os sucessos do momento com a turma da Jovem Guarda




 Certo dia, meu amigo Herder Mendonça convidou-me para, na sua casa de espetáculos, o saudoso Rock In Rio-Salvador, assistir a um show de Wanderléa
, a musa da Jovem Guarda. Aos 60 anos, exuberante e superprofissional, ela adentrou ao palco para se apresentar a uma platéia de uma centena de pessoas. Por um erro estratégico qualquer, a menor em toda a história da casa. Mesmo assim, cantou como se estivesse se apresentando num estádio lotado. No meio do show , deslocou-se do palco, veio até aonde eu estava, tomou-me as mãos e cantamos juntos “Uma vez você falou, que era meu o teu amor...” (trecho da canção Ternura, de Roberto e Erasmo Carlos). Digo cantamos, mas não foi bem isso. Ela cantava e eu chorava lágrimas dedicadas àquelas tardes de domingo que Jonas nos proporcionava.


Autor: Celso Mathias