quarta-feira, 24 de outubro de 2007

José Dionísio Nóbrega

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Por Celso Mathias


Na época, ainda não havia em Euclides da Cunha o curso ginasial. Quem terminava o curso primário tinha que procurar outras paragens para dar continuidade aos estudos. Os mais abastados procuravam a capital, Salvador. Os menos, Bonfim, Feira de Santana ou Tucano.

Nisinho, mais adiantado que eu, foi para Tucano um ano antes. Passou com louvor na Admissão ao Ginásio. O cara era fera!




Ao retornar a Euclides da Cunha, Nisinho apareceu calçado numa botinha de salto igualzinha a do Roberto Carlos, o Rei do Iê-iê-ie. Teve que me vendê-la! E aí, começou a nossa amizade. Convivemos um ano no Ginásio do Padre José, em Tucano e reencontramos-nos estudantes do curso colegial em Salvador. Agora, ele já era Dionísio. Nada de Nisinho! Moramos juntos em alguns quartos de pensão, em vários pontos da cidade. Depois, alugamos um apartamento na Rua Carlos Gomes e, em seguida, na Rua Djalma Dutra, ali perto do Largo da Setes Portas. A minha vida era divida entre o estudo e a boemia. A de Dionísio, entre o estudo, a boemia e o trabalho. Ele já fora admitido como funcionário do Estado através de concurso público. O cara sempre foi fera!


Conviver com o Dionísio não era fácil. Era e é, uma das pessoas mais exigentes que conheço. Exigente e extremamente coerente com suas crenças e princípios. Daí, creio eu, a fama de excêntrico e temperamental. Conosco, nas pensões em que vivemos, conviveram em fase adiantada de sérios problemas de saúde, D. Loló, que morreu precocemente aos 49 anos, e Sebastião, que se foi aos 52. Ali, eu vi o bom filho se desmanchar em sofrimento e lutar para salvar os pais. Essa guerra, infelizmente, ele perdeu cedo. Bom irmão, conduziu os outros seis órfãos pelos melhores caminhos possíveis. Quem não cresceu com ele, foi porque não quis

Mais de 30 anos nos separam da convivência de meninos euclidenses. As transformações pelas quais os caminhos da vida nos fizeram passar, de fato nos distanciaram não só fisicamente. As idéias e os propósitos que nunca foram os mesmos tomaram corpo em forma de filosofias de vida bem distintas. Duas coisas no entanto se fortaleceram o respeito mútuo e a admiração .







De posse de um diploma de curso técnico em Administração, trabalhou com o catedrático Jorge Hage, hoje figura importante da República. Estágios em outras capitais o transformaram em um disputado Técnico em Administração Pública. Estimulado pela experiência no setor, fez vestibular para o Curso de Administração Pública da Universidade Federal da Bahia. Passou e concluiu o curso com distinção e honra. O cara sempre foi fera!



De volta à Bahia, reencontro Dionísio que é hoje Auditor Fiscal do Estado da Bahia, cargo que obteve através de concurso publico. O cara é...

Mas o que Dionísio gosta mesmo de fazer, é ouvir e contar histórias. O Auditor Fiscal é muito mais um competente historiador do que um Auditor. Apesar disso, o acesso que tive a uma autuação dele, embora cruel, me deixou a certeza de que tudo o que ele faz, até mesmo o que não gosta, o faz muito bem feito.

Dionísio, que é um legítimo Abreu, sobrinho-neto de Quinquin Paranhos de Abreu,vem se dedicando ao estudo da história de Euclides da Cunha e das regiões circunvizinhas , fazendo profundas investigações nas árvores genealógicas e revelando fatos importantes sobre acontecimentos e pessoas.












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11 comentários:

Elcy Nóbrega disse...

Esta fera é nosso mano, grande nizinho! Elcy e Delcy

Bianca Carvalho disse...

Uau!!! Poooxa!! Gostei muito de encontrar esse blog!!! Estava procurando no google por Canudos - BA e encontrei essa maravilha!! Meus pais já moraram nessa terrinha. Nilton que é meu pai, natural de Ibó, louco por Canudos, está me dizendo agora que esse povo de Euclides e Canudos é muito hospitaleiro. Nasci e moro em Mirassol-SP. Estou louca de vontade de fazer uma visita em Euclides da Cunha. Gostei desse cara aí! José Dionísio, Parabéns!!!
Bianca
Mirassol-SP

Ana Lúcia Nóbrega disse...

Esse Nóbrega é meu tio!muito inteligente por sinal!Um orgulho para toda família ,merece todas as estimas sem dúvidas!Mas o dono deste blog também deveria pesquisar sobre meu pai José Lauricio da Nóbrega(Morenito)que concerteza foi o euclidense mais apaixonado pela cidade que já vi e não era porque era meu pai não!foi de grande importancia.Conhecido por ser o poeta do sertão fez diversos livretos sobre a cidade e gerra de canudos é sem dúvida uma peça importante para a cidade!Morreu dizendo que só desencarnaria se fosse na cidade que tanto o acolheu em seus 52 de anos de vida!é sem dúvida um orgulho para a cidade do Cumbe!

ANA disse...

PARABÉNS DIONISIO!!!
MUITO BOM JÁ SABIA DA SUA INTELIGENÇIA NAO E ATOA QUE VOÇE MORRA NO MEU CORAÇAO.
BEIJOSSSSS

ZIBIA LUCIA DAMASCENO disse...

DIONISIO, DESDE QUE TE CONHECI QUE PERCEBI SEUS VALORES, ÉTICOS, PESSOAIS, MORAIS, E DE UM GOSTO MUSICAL ÍMPAR, ADMIRO VC E SEU TALENTO, TEMOS COISAS QUE SÃO DIFERENTES MAS NUMA MAIORIA SOMOS SEMELHANTES. ISTO É, AMAMOS A ARTE. PARABÉNS PELO HINO MUITO BEM ELABORADO, SUA VOZ MAVIOSA DEU UMA CONOTAÇÃO DE BRAVURA E HEROISMO QUE COM CERTEZA OS CANUDENSES SE ORGULHARÃO E MUITO EM BREVE ESTÁ RÁ SENDO EXECUTADO NOS MOMENTOS HISTÓRIOS DESSA PEQUENA CANUDOS QUE DE CERTA FORMA LEMBRA O MEU PAI QUE TEM TAMBÉM LÁ SUAS ORIGENS. ABRAÇOS!

Lu disse...

Parabéns meu tio e padrinho Dionísio, o senhor é brilhante! Orgulho da família.
Beijo grande e muita saudade!

JOÃO BOSCO SOARES DOS SANTOS disse...

DIONÍSIO NÓBREGA É MUITO MAIS QUE UM ESCRITOR, CONFERENCISTA, AUDITOR FISCAL, ESTUDIOSO E PESQUISADOR; É MUITO MAIS QUE O SENHOR DA CULTURA REGIONAL E UM MESTRE-ESPECIALISTA DOS SERTÕES E NOS SERTÕES NORDESTINOS DA NOSSA FANTÁSTICA E RIQUÍSSIMA BAHIA.
DIONÍSIO NÓBREGA É A PRÓPRIA ENCICLOPÉDIA DA HISTÓRIA E DA CULTURA DOS NORDESTINOS SERTÕES BAIANOS E A PRÓPRIA E TOTAL INTERNET DESSES SERTÕES.NOSSOS CONTINUADOS APLAUSOS E REVERÊNCIAS E A ESTE GRANDE EUCLIDENSE E BAIANO.

Paulo Ormindo de Azevedo disse...

Para Dionísio Nobrega

Um trio de cantadores encantados
Paulo Ormindo de Azevedo

Eles vieram do Nordeste procurando uns retirantes que arribaram na cidade há alguns dias. Era um casal que não conseguia hospedagem porque não tinha documentos e se vestia com roupas rasgadas, não de boutique, mas de brechó: o marido, um desempregado, sem RG nem INSS, a esposa, uma menor prenha de nove meses. No ultimo hotel, o gerente disse que sem documentos eles não seriam aceitos nem na zona e o melhor era dormirem num curral ali perto, de graça. Cansados, aceitaram a sugestão. Deitaram-se numa esteira de babaçu e o marido pensou: - pela manhã ordenho uma vaca e quebro o jejum de minha pequena. Mas naquela mesma noite a esposa entrou em trabalho de parto e Zé Carapina lamentou que a sogra, sinhá Santana, não estivesse ali para ajuda-lo. Por instinto pegou um cacumbú que levava no gibão e cortou o cordão umbilical de Emanuel, que acabara de nascer.
Logo a noticia do nascimento de um bacuri, que faria maravilhas, se espalhou pelas feiras. Belchior, cantor tido como maldito, montou na moto, já que haviam matado todos os jericos e éguas do sertão, para pedir ao menino a mudança de sua sina. Na estrada encontrou Baltasar, um cabra tocador de zabumba e triângulo, que viajava numa cinquentinha. Numa noite escura, o pneu de uma das motocas furou, foi quando apareceu como um fantasma um rapazola enrolado num lençol. Ele perguntou o que aconteceu, cobriu a moto com o lençol, disse abracadabra, soprou e o pneu se encheu. Os dois se assombraram, mas ele os tranquilizou dizendo que ele era só aprendiz de magia, malabar e astrologia. Como eles se baratinavam nas trilhas da catinga, pediram ao estranho para orientá-los. Gasparzinho olhou para o céu, viu uma “nova” e disse que era naquela direção e os acompanharia na boleia. Nas vilas em que passavam, o trio fazia sucesso tocando, cantando e ilusionando, eram os Reis do Forró Encantado.

A estrela os levou à mansão do coronel que dominava, há 40 anos, a terra bendita do círio, um cabra aloprado, que ouvira falar do menino e temia que ele tomasse seu posto. Queria mandar seus lobos-maus matar as criancinhas do pedaço. Perguntando a um e a outro o trio chegou a um igarapé, nos afora de Belém, onde já havia pastores, ovelhas e um boto rosa. Belchior ofereceu ao casal um pé de meia com cruzados e reais, Gasparzinho, que encantou o bacuri com malabarismos, deu ao pai um incensador de girar no ar, e Baltasar presenteou um unguento de sebo de carneiro para as assaduras e cinco panos de linhagem para servirem de fraldas. O gerente do hotel se maldisse por ter rejeitado o mais famoso hospede. Começaram então a tocar, cantar e fazer voar tochas de canela-de-ema pelo ar. As pastorinhas se enfeitaram com flores de bonina e começaram a cantar e a dançar. Assim nasceu o Terno de Reis.

Neia Lima disse...

Tive o prazer de conhecer Dionísio no Instituto Histórico. Ético e um bravo contador de história. Ganhei um cd de presente. Quanta honra :D

Anônimo disse...

Olá! Gostaria que você colocasse na biografi de José Dionísio Nóbrega a data de Nascimento dele 09/10/1948.

Anônimo disse...

Olá, hj eu tive o praser de conhecer ele e infelizmente n tivemos muito tempo para conversar. Ele parece ser uma pessoa incrível q eu gostaria de saber mais sobre ele e até sobre como eu poderia entrar em contato com ele! qualquer informação seria útil