Fonte: Revista Vida BrasilCelso Mathias e Elias da Maria Senhora (1961 e 2011) no mesmo local
>>>Clique na imagem para ampliarÉ interessante observar como a sede do poder se desloca pelas ruas dessa cidade outrora bucólica, hoje com ares de cidade de médio porte. Embora a ideia seja fixar o olhar nos últimos cinquenta anos de política e costumes em Euclides da Cunha, vamos um pouco mais distante encontrar ali pelos anos 20, o poder se dividindo entre a Praça Duque de Caxias onde morava o intendente Major Antonino e Praça da Igreja que abrigava o casarão do intendente Capitão Dantas, adversário do primeiro.
Depois o poder se deslocou para a Rua de Cima, hoje Rua Joaquim Santana Lima, onde viveu e morreu o próprio em uma elegante casa hoje ocupada pelos seus filhos mais jovens. Na mesma rua morava Luís Caldeirão que foi influente fazendeiro e Delegado de Polícia.
Na primeira casa da afamada rua, já na divisa com a Praça Duque de Caxias, no resistente casarão hoje centenário onde vive a Professora Railda, morava seu destemido pai Joaquim Matias de Almeida. Fazendeiro, comerciante e por quase duas dezenas de anos; Delegado de Polícia.
E a sede do poder continuou sua migração dividindo-se entre os anos 40 e 60 com a Avenida Rui Barbosa e a Avenida Otávio Mangabeira (Rua dos Ricos), representadas respectivamente pelo astucioso José Camerino de Abreu, prefeito por duas legislaturas e Antonio Batista de Carvalho, o habilidoso Vaqueiro do Canché, três vezes prefeito.
Vereadores até meados dos anos 80 não recebiam qualquer remuneração, ajuda de custo, cota de telefone ou gasolina. Uma lei que isentava o parlamentar de pagar a conta residencial de energia elétrica chegou a ser furiosamente rejeitada por alguns vereadores, entre eles, Jaime Amorim da Silva, orgulho de amigos e familiares.
Com raras e “desonrosas” exceções, os ricos da época não aplicavam golpes em financeiras, não compravam cargas roubadas, não grilavam terras, não enriqueciam cultivando e/ou transportando maconha para o sul do país, adulterando combustíveis ou fazendo agiotagem pesada. Um ou outro emprestava um dinheirinho a taxas menores que as dos bancos. Isso há 50 anos...
Vamos continuar sobrevoando a cidade a partir do ponto onde foi feita a foto com aqueles dois meninos de 12 anos. O Elias é filho da Maria Senhora e do Elias, então prospero negociante de sisal. A Maria Senhora, batalhadora, cozinheira e doceira maravilhosa, foi dona do melhor bar que a cidade já teve. “Bar Rejane”, nome que homenageava a filha caçula. Hoje está instalada ali, a Monte Santo Esportes. Nas outras três esquinas da avenida onde fizemos a foto, a Ruy Barbosa, estavam a loja de tecidos do Zeca Dantas, hoje Real Calçados, a casa da família Macedo, hoje uma Farmácia e a Venda de Neluzinho, hoje Aliança Calçados.
“Um homem só atravessa o mesmo rio uma vez. Na próxima travessia, nem o homem nem o rio serão mais os mesmos”. Por tanto, não somos mais os mesmos, nem nós, nem a avenida, nem os costumes até a arvore onde nos apoiamos não é mais a mesma. A original foi derrubada por um caminhão desgovernado.
O meu alento, é que aqueles meninos inocentes que ocupavam aqueles corpos leves e juvenis, continuam vivos em alguma parte das nossas não mais tão leves consciências. O sofrimento, cada um na sua esfera, nos temperou como o fogo tempera o aço. Perdemos, pais, irmãos, esperanças, mulheres, dinheiro... Uma coisa com certeza não perdemos, pelo contrário, fortalecemos; a dignidade.
Por Celso Mathias_