Contribuição: Leuza Bonfim
José Soares Ferreira Aras nasceu aos 28 de julho de 1893 no Sítio Lagoa da Ilha, Cumbe, (hoje Euclides da Cunha), município de Monte Santo, freguesia da Santíssima Trindade de Massacará, e faleceu em Euclides da Cunha, a 18 de outubro de 1979. Foram seus pais José Raimundo Soares e Joana Maria do Espírito Santo.
Aos 06 anos de idade compôs os seus versos, a caminho da feirinha de Cumbe.
Foi autodidata, poeta, repentista, crítico dos costumes em sua terra, pesquisador, prosador e o primeiro a contar em versos de cordel e em prosa a história da guerra de Canudos, na visão dos sertanejos, conforme registrou o prof. José Calasans Brandão da Silva, que foi seu hóspede em Bendegó.

Tinha inteligência, memória e sensibilidade telepática impressionante.
Embrenhava-se pelos sertões do nordeste brasileiro chegando a indicar mais de cinco mil fontes. Previa, com incrível exatidão, o veio de água, a profundidade, o tipo de solo ou formação granítica e a qualidade da água.
Previu a existência do grande lençol de água do Jorro e a construção da barragem de Cocorobó, além de outros fatos.
Em 1948, desbravou a caatinga, no cruzamento das estradas transnordestina e transversal, próximo ao local da guerra, fundando, ali o povoamento de Bendegó.
Tendo feito o Censo na região do conflito, em 1920, iniciou a coleção de material bélico usado pelo exército e pelo conselheiristas, criando e instalando no vilarejo o Museu Histórico da Guerra de Canudos, visitado e elogiado por personagens ilustres e estudiosos do Brasil e do exterior.
Foi o idealizador da mudança do nome de sua terra Cumbe para Euclides da Cunha, por Decreto do então interventor Landulpho Alves.

Sua produção literária é vasta. Dentre dezenas de livros de poesia e de história publicados, ressalta “Sangue de Irmãos”, que foi consulta permanente para o grande escritor peruano Vargas Llosam, José Calasans, Clodoaldo G. da Costa e outros historiadores pátrios. Em prosa, publicou ainda “Lampião, terror do nordeste”, “Um piolho na orelha de um lobo”, “A pedra do Bendegó”, “Máximas poéticas” e, recentemente “No sertão do conselheiro”. Na literatura de cordel, escreveu “Guerra no sertão de Canudos”, “A vida de João Calêncio”, “A panela da política e a câmara dos Deputados”, “Uma páscoa em Monte Santo” etc.

Grande estudioso da história da Bahia, deixou pesquisas e avaliações sobre a conquista dos sertões, pelas entradas de Belchior e Robério Dias, sobre o meteorito do Bendegó, a luta de jagunços e coronéis, Lampião, Revoltosos e aprofundado estudo sobre Canudos, seus defensores e sua problemática.
Sua poesia popular ironisa os costumes e os políticos do início do século, canta as belezas e as riquezas da Bahia e do Brasil, as festas populares, as comunidades baianas e reflete a angústia e a alegria do sertanejo.
Como autodidata e pesquisador no campo da Hidrologia, fez o maior levantamento dos recursos hídricos do subsolo do nordeste da Bahia, ajudando as populações sertanejas e localizarem, nas secas da década de 40, mas de 5.000 mananciais de água subterrânea. Publicou, para ajudar na descoberta de águas, o livro “Como descobrir Cacimbas”, que foi e é fonte de pesquisa em escolas de nível superior.

Por ocasião da 1ª Semana da Cultura de Euclides da Cunha em 1972 compôs o Hino.
Preocupado com as riquezas arqueológicas do Estado e com a memória nacional, organizou o único museu do interior, reunindo fósseis e todo o tipo de armas usadas na guerra de Canudos.
Depois de criar comunidades pelo interior da Bahia (Poço de Fora e Bendegó), incorporou-se a partir de 1950 à vida de Feira de Santana, aqui residindo com seus familiares, até 1958, quando faleceu sua esposa D. Maria Benevides Aras, regressando à sua terra natal.

Foi destaque nos jornais “O Globo”, “O Estado de São Paulo”, “A Tarde”, “O Farol”, e outros do Ceará e Maranhão, além das Revistas “Veja”, “Íris”, “Revista Brasiliense”, etc. Participou do filme de Ypojuca Pontes “Guerra de Canudos” e outros.
Recebeu títulos de cidadania, diplomas e medalhas de órgãos públicos.
No seu centenário de nascimento, foi homenageado em sua terra, sendo lembrado no congresso Nacional pelo Deputado Sérgio Tourinho Dantas.
Por Profª Dra Lina Aras
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