domingo, 29 de setembro de 2013

Ano 2013 - Cumbe: 80 ou 115 anos de emancipação?

Por Dionísio Nóbrega


O tenente-coronel da Guarda Nacional Antônio Francisco de Souza Reis, conhecido por “Major Antonino”, primeiro e grande líder desta terra, vendo que o seu torrão natal já reunia todas as condições para se emancipar de Monte Santo, entrou em contato com Dr. Francisco Carvalho do Passo Filho, deputado recém-eleito pelo 5º distrito, para que submetesse à apreciação da Câmara petição que elevava à categoria de Vila o arraial de Cumbe¹. Nessa época os municípios tinham como sede vilas ou cidades.
Segundo deputado mais bem votado por seu distrito, amigo íntimo do governador Luiz Vianna², conhecedor profundo da região sertaneja, Dr. Passo Filho era o melhor representante da Assembléia Legislativa para tornar realidade o desejo do povo desta terra em se libertar de Monte Santo. E tudo corria a favor de Cumbe.



Monte Santo-BA
Monte Santo não criaria nenhum problema. O seu intendente, Cel. Felisberto José Pinheiro, fora na década de 1880 o principal colaborador de Dr. Passo Filho quando este exercera em Monte Santo³ o cargo de juiz de direito da Comarca que incluía também o município de Tucano. Embora natural de Nova Soure, filho do coronel Francisco Carvalho do Passo, que fora o 1º intendente daquele município e correligionário de muito tempo de Luis Vianna, Dr. Passo Filho era dono da grande fazenda “Olhos d’Água” no município de Tucano. Ainda hoje há um lugar de Masseté abaixo conhecido pelo nome de Lagoa do Passinho. Passinho, nome popular de Dr. Passo Filho, tinha muitos parentes em Tucano, principalmente na Taboa e Muriti dos “Alves do Passo”. Um irmão seu mais novo, Dr. Américo Carvalho do Passo, viveu os últimos dias de vida na Fazenda Bendó do antigo município de Pombal ao lado da esposa Umbelina Arsênia da Gama Passo, ou simplesmente Belinha do Bendó, que entrou na história de Canudos como doadora da cumeeira e outras peças de madeira para a igreja nova de Canudos da época de Antônio conselheiro. Dr. Passinho era sobrinho do coronel José Américo Camelo de Souza Velho. Portanto, primo carnal do Cel. Potâmio que será Intendente de Cumbe em dois mandatos.



Major Antonino

Há uma possibilidade real de parentesco entre Dr. Passo Filho e o Major Antonino. As mães de ambos desfrutam dos mesmos sobrenomes: Caetana de Morais. A do Major Antonino chamava-se Antônia e a de Dr. Passo Filho, Maria, sendo que a primeira teria idade de ser mãe desta última. O avô materno de Dr. Passinho atendia pelo nome de Américo Camelo de Souza, e Souza faz parte do nome do Major Antonino.
O projeto de emancipação de Cumbe correu na Câmara dos Deputados sob o número 477 e sua primeira discussão se deu a 9 de julho de 1897. Estava Canudos, que iria pertencer ao município de Cumbe, em plena Guerra.
Na Câmara, Dr. Francisco Carvalho do Passo Filho declarou que lamentava o esquecimento a que Cumbe foi submetido, visto não conhecer no sertão localidade mais própria e de futuro lisonjeiro. Em seguida, enalteceu-lhe a beleza indescritível das paisagens, dos vales e colinas, a salubridade do clima, as riquezas florestais, a produção agrícola e a industria pastoril, o comércio da grande feira, distinguindo-se como um dos maiores mercados da região, a uberdade e a pujança do solo. Traçou-lhe um perfil da urbanização, das edificações de um modo geral, do templo católico, de casa onde funcionará o Conselho Municipal (hoje Câmara de Vereadores), do barracão da feira do primeiro e grande líder Major Antonino, de uma maneira tão entusiasmada que os colegas deputados não lhe fizeram a menor oposição⁴. Pelo contrario, foi muito aplaudido. Soube apresentar com motivação, talento e capacidade persuasiva os aspectos essenciais do futuro município.


A segunda discussão ocorreu a 27 de abril de 1898. Dr. Antonio Carlos de Souza Dantas, filho do ex-presidente da província da Bahia Dr. João dos Reis de Souza Dantas e sobrinho do Conselheiro Dantas, submeteu à consideração da Casa uma emenda que mudava a expressão Vila de Nossa Senhora do Cumbe para simplesmente Vila do Cumbe.

Outra grande intervenção foi a do deputado curaçaense Scipião Torres, um dos signatários do projeto ora  em discussão. Como representante da 5º circunscrição, fez discurso convincente e, dentre outras coisas, lembrou que, sendo elevado à vila, Cumbe se constituirá num município onde se estabelecerá uma Coletoria que fará a cobrança dos impostos estaduais com mais regularidade e mais ordem.
Também o deputado Carlos Leitão, filho do coronel José Leitão, de Santa Luzia (hoje Santa Luz), lembrou aos colegas o lindo madrigal com que Dr. Passo Filho cantara as belezas do Cumbe.

O único que criou algumas dificuldade foi o Cônego Novais que, fazendo oposição ao governo Luiz Vianna, requereu, por intermédio da mesa, informações do Conselho Municipal de Monte Santo⁵. Encerrada a discussão, ficou o requerimento prejudicado, pelo que pediu se consignasse em ata ter votado contra o projeto⁶. Em 6 de Maio de 1898, em 3º e ultima discussão, aprovou-se o projeto.

No senado do Estado, o projeto, que chegara a 11 de Maio de 1898, correu rápido, visto que os senadores, por unanimidade, foram a favor⁷. Petição do Conselho Municipal da Vila de Tucano⁸, reclamando contra o projeto, nem sequer entrou em discussão, a qual deve ter se originado do fato de que no projeto de criação do município de Cumbe se incluíram sítios ou fazendas do município de Tucano, como por exemplo Casabu e Algodões.

Rápidas e sucessivas foram as discussões e aprovações de 4,6 e 11 de julho de 1898. Decretado pelo Senado e levado ao então governador conselheiro Vianna, para sanção, o projeto de emancipação da Vila do Cumbe transforma-se na Lei nº 253⁹. Na realidade a Lei nº 253 sairá em 20 de julho de 1898, mas foi publicado com a data de 11 de Junho de 1898.




Capitão Dantas (à esq.) Cel Arsênio Dias Guimarães e Cícero
Dantas Martins (neto do Barão de Jeremoabo)

Através do Dec. nº 23, de 31 de Dezembro 1898¹ᴼ, o chefe do executivo baiano designou o dia 26 de fevereiro de 1899 para que se realizasse em Cumbe a sua primeira eleição, da qual saíram intendente o Major Antonino, líder político local que muito lutara para a emancipação de seu povoado, e membros do Conselho Municipal, o coronel Arsênio Dias Guimarães, do Caimbé, Ernesto Francisco da silva Reis, filho do Major Antonino, Luiz Martins de Almeida (Seo Lulu), da Lagoa do Barro, Joaquim de Carvalho Lima, filho de Baltazar Francisco Lima (primeiro Lima a pisar no Cumbe), José Joaquim de Santana (pai do futuro intendente e também prefeito Joaquim Menino) e Raimundo José do Conselho (Raimundo Cajazeira), esposo de Maria do Brejinho e pai de Manuel do Conselho Campos(Detinho).

De acordo com a Lei nº 104, de 12 de agosto de 1895¹¹, houve a segunda eleição em 9 de Novembro de 1902, na qual se elegeu intendente Potâmio Américo de Souza, com 25 anos incompletos, grande amigo de Dr. João da Costa Pinto Dantas, de quem se dizia primo, filho do coronel José Américo e sogro de Ioiô da Professora. Elegeram-se presidente do Conselho Municipal (hoje Câmara de Vereadores) João Alves de Souza (pai de Apromiano Alves de Campos), natural do antigo Bom Conselho (hoje Cícero Dantas) e membros do Conselho os senhores Zacarias Dantas do Nascimento (descendente dos Dantas Pereira do Bom jardim), Raimundo da Silva Dantas (tio dos irmãos Ioiô Dantas e Zé Dantas, avô de Floranice), inimigo declarado do povo conselheirista de Canudos, Pedro Francisco da Silva Guimaraes (descendente dos Pereira Guimaraes de Campo Formoso e dos Mendes da Silva do Caimbé), Felixberto de Macedo primo (pai de Chiquinho do Beto, de Zé Macedo, João Macedo e outros), da Lagoa do Barro, Quintino Lopes de Castro (conhecido por Quinto Lopes), pai de Castrinho e muitos outros, e Rozendo Ferreira Primo (avô de IoIô de Hermógenes e de outros, sogro de João Macedo, de Benjamim  Batista e de Edmeia de Joãozinho da Barriguda), morador no Riacho d’Água. Além do Major Antonino (dois mandatos?) e Cel. Potâmio (eleito em 1902),

Cumbe terá até 1930 os seguintes intendentes: coronel Arsenio Dias Guimaraes (três mandatos), morador no Caimbé; capitão Francisco da Silva Dantas, sergipano de Cristinapolis, que conseguiu trazer de Salvador para Cumbe a professora Erotildes Siqueira (mãe de Zeca da professora Antonieta, de Dominguinho, de Ioiô da Professora, além de outros); Joaquim de Carvalho Lima (tio de um dos chefes políticos de Cumbe: Joaquim menino); Benevides Dias Moreira (pai de filhos euclidenses e tucanenses, tio da professora Luti e D. Iaiá do Correio), filho do Professor Moreira, de Massacará, e bisneto de um dos compradores do Aribicé; coronel Potâmio Américo de Souza (2º mandato), Joaquim de Santana Lima (Joaquim Menino), pai do vereador Zezé Lima e de muitos outros; e Luiz Ferreira do Nascimento (Seo Lua), sogro de Zé Dantas e último intendente de Cumbe.


Em 7 de Maio de 1901, o Secretário do Tesouro e Fazenda do Estado resolve exonerar o coletor recém-nomeado José Lopes Guimaraes, casado com D. Julia Emília, filha do Padre Sabino, por não ter se habilitado no prazo que lhe fora marcado, e nomeou para o dito cargo o cidadão Francisco Dantas. Creio que este senhor seja o sergipano de  Chapada dos Indios, depois Vila Cristina, hoje Cristinápolis, que buscou e conseguiu trazer para o Cumbe a primeira professora formada, D. Erotildes Siqueira.
Os Lopes Guimaraes vieram para Cumbe por influência do pai do Major Antonino, Manoel Felix dos Reis, que viúvo de D. Antônia Caetana de Moraes, entrou na família Lopes de Monte Santo sem deixar descendência.



Com a Lei nº 253, de 11 de junho de 1898, que deveria ter sido de 20 de julho, Cumbe deixou de ser um simples distrito de paz para tornar-se um dos maiores municípios da Bahia em área geográfica, compreendendo em seu território, alem do distrito-sede, as fazendas Jiboia, Castanhão, Riacho d’água, Beira da Serra, Juá, Lagoa da Mata, Penedo, Pocinhos, Barra da Fortuna, Coiqui, Poço de Cima, Serra Vermelha, Bom Jardim, Curralinho, Casabu, Algodões, Riacho, Campo Grande e Limoeiro, de modo a se limitar com Tucano, Monte Santo, Jeremoabo, Cícero Dantas e Pombal.
Com a revolução de 1930, a Bahia sentiu necessidade de reduzir o número de municípios com o fim de exercer maior domínio sobre eles. Arthur Neiva, como novo interventor federal na Bahia, buscou assessoramento em Bernardino José de Souza¹², sergipano conceituadíssimo como professor e administrador. Este notável Secretário Perpétuo do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), conterrâneo do capitão Francisco da Silva Dantas, construtor dos prédios da Faculdade de Direito do Portão da Piedade e do próprio IGHB, foi nomeado Secretario do Interior e Justiça, ficando sob sua responsabilidade a reorganização político-administrativa dos municípios.
Com a nova reestruturação, muitos municípios sumiram do mapa político baiano, alguns deles antigos e tradicionais, como por exemplo S. Sebastião. Isso pode ter causado insatisfação nos municípios incorporados. O interventor Neiva, para diminuir o mal-estar, deu-lhes o status de subprefeitura.
Ao território do município de Cipó, que se emancipara a 8 de julho de 1931, por força do decreto nº 7.479,  foram anexados os municípios de Soure, ao qual Cipó pertencia como povoado, Pombal, Tucano e Amparo.
Cumbe, emancipado desde 1898, e Uauá, em 1926, voltaram a pertencer a Monte Santo em 8 de julho de 1931 pelo Decreto nº 7.478. Quinze dias antes, Cumbe fora equivocadamente anexado a Paripiranga através do Decreto nº 7.455, de 23 de junho de 1931.
Por causa dessa política anexacionista, conheceu Cumbe um momento dos mais delicados de sua historia, um verdadeiro retrocesso político. Dos anexados que se restabeleceram em 1933, Cumbe foi o último município da Bahia a ter subprefeitura e subprefeito. Com a criação dessa estrutura política de subprefeitura consolaram-se pelo menos os grandes municípios desaparecidos.
Em menos de um mês de anexado, Tucano conseguiu a nomeação em 4 de Agosto de 1931 de seu subprefeito, o tenente Abdias Freire de Andrade (vide DOE, 03/08/31). Dois dias antes de Tucano, saíra o nome de Antônio de Brito Costa, de Pombal (vide DOE, 01/08/31).   Uauá, ainda um pequeno município, emancipado 28 anos depois de Cumbe, teve subprefeito, o senhor João Minervino de Macedo, também em 1º de agosto de 1931. Cumbe, no entanto, fora esquecido. Quase dois anos depois da perda de autonomia, precisamente a 17 de março de 1933, é que foi criada a subprefeitura (Dec. Nº 8.420, de 17/03/1933) e 63 dias depois (24 de maio de 1933) foi nomeado subprefeito o senhor José Camerino de Abreu (DOE, 24 de maio de 1933)




O 19 de Setembro é uma data histórica relevante não só para a cidade como para todo o município, pois foi neste dia do ano 1933 que Cumbe se restabeleceu como município através do Decreto nº 8.642, baixado pelo interventor federal, interino, Manoel Matos Correa de Menezes. Nesse mesmo dia foi nomeado prefeito o subprefeito José Camerino de Abreu. Correa de Menezes, pelo Decreto nº 8.653, de 25 de setembro de 1933, designa o dia 10 de Outubro daquele ano para a instalação de Cumbe, de Uauá e Pombal.
Pelo Decreto nº 11.089, de 30 de Novembro de 1938, o município e seu distrito-sede passaram a denominar-se Euclides da Cunha, em homenagem ao historiador da Campanha de Canudos, autor de “Os Sertões”. Como se vê, há várias datas históricas para o município de Euclides da Cunha comemorar.

NOTAS
1. Anais da Câmara dos Senhores Deputados do Estado da Bahia, vol. IV, 54ª sessão ordinária
2. Anais da Câmara dos Senhores Deputados da Bahia, Vol.IV, 54ª sessão ordinária; Anais da Câmara, sessão em 17 de agosto de 1897, pag. 269
3. Anais da Câmara dos Senhores Deputados do Estado da Bahia, Vol. IV, 54ª sessão ordinária
4. Anais da Câmara dos Senhores Deputados do Estado da Bahia, Vol. IV
5. Anais da Câmara dos Senhores Deputados do Estado da Bahia, Vol. I, 9ª sessão ordinária
6. Anais da Câmara dos Senhores Deputados do Estado da Bahia, Vol. I, 9ª sessão ordinária
7. Anais da Câmara do Senado do Estado de 1898, Vol. I,  21ª sessão ordinária
8. Anais da Câmara do Senado do Estado de 1898, Vol. II,
9. Anais da Câmara do Senado do Estado de 1898, Vol. III, 65ª sessão ordinária
10. Enciclopédia dos Munícipios-Ba
11. Livro do Tabelionato do município de Cumbe
12. Bernardino j. de Souza estudou no Ginásio Carneiro Ribeiro e na Faculdade de Direito da Bahia, de que foi professor

Palestra proferida por José Dionísio Nóbrega em 27 de setembro de 2013 no Espaço Nordeste - Euclides da Cunha - BA


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A chegada da primeira professora em Cumbe



Com a chegada do sergipano, capitão Francisco da Silva Dantas, pouco antes da guerra do Conselheiro, Cumbe experimenta algum desenvolvimento graças à influência de seu espírito empreendedor e visão de longo alcance. Como a primeira filha Maroca, fruto do casamento com dona Balbina, já estivesse em idade escolar, começa o jovem capitão a se preocupar com o futuro da primogênita e dos outros filhos que nasciam.

Francisco da Silva Dantas (Capitão Dantas)

Até 1903, a vila de Cumbe, hoje Euclides da Cunha, não tinha ainda a sua professora. O que faz o Capitão Dantas? Lança-se, com o aval do então intendente, coronel Arsênio Dias Guimarães, a uma luta difícil, mas não impossível: trazer para Cumbe uma professora primária, diplomada. Com a morte do Barão de Jeremoabo, seu “padrinho” nesta causa tão nobre, o senhor Dantas intensifica seus contatos com os dirigentes da instrução pública do governo de Severino Vieira, enquanto, por outro lado, uma jovem professora, recém-formada em Salvador, se empenha por conseguir o primeiro emprego.

Professora Erotildes

Não tardou de chegar o dia em que os dois se conheceram. A vontade dele de ver as crianças da nova terra na escola casa-se com o desejo dela de ensinar o que aprendeu e de ter uma profissão. De repente, surge um obstáculo quase intransponível para a jovem Erotildes — Cumbe era muito próximo de Canudos. O ouvir o nome de Cumbe fazia-a lembrar-se das subnutridas, doentes e maltrapilhas prisioneiras de guerra de que tratou em Salvador, quando foi voluntária em um dos “hospitais”. A imagem de abandono das jaguncinhas — crianças e mocinhas — cortava-lhe o coração, não lhe saía da mente. Canudos metia-lhe ainda muito medo. Não fossem os recursos persuasivos e muita insistência do senhor Dantas,


além da promessa de que, se ela não se desse bem na vila, ele a traria de volta, a jovem professora de Saubara não teria ido morar no sertão. A vila de Cumbe teria se privado de uma grande mestra. Dona Filinha, nome pelo qual ficou conhecida, consulta sua família e topa o desafio. Em 1904, sai a sua nomeação, não sei se ainda no final do governo de Severino Vieira ou se já no início do de José Marcelino. Mas como chegar ao Cumbe se só havia trem até Queimadas? A solução encontrada foi o carro de boi que já conhecia e que dele já tinha feito uso como carro de passeio pelas fazendas de Santo Amaro. O senhor Francisco Dantas arranja-lhe um, bem equipado, com toldo, para protegê-la do sol, feito com uma arcada de cipó-de-leite, coberto com uma empanada. Para dar-lhe maior conforto, prepara-lhe um colchão especial de lã de barriguda. Se o mecenas sertanejo teve o cuidado de colocar esses opcionais importantes no carro de boi, coisa foi com relação à escolha do


 carreiro. Calasans é o nome dele, homem de sua mais alta confiança. Na data certa, marcada através de carta, já estava ele na vila de Queimadas, com poucos minutos de atraso. Dona Filinha tinha já feito amizade com uma professora leiga, na casa da qual descansava. O choro monótono do carro de boi desperta-a e anuncia-lhe a chegada do carreiro. No outro dia, juntos, seguindo as pegadas do coronel Moreira César, o paciente piloto retoma o caminho de casa. Dona Erotildes, entretanto, vai ao encontro do destino. Queimadas, para Calasans, foi apenas mais um de seus pontos de chegada. Para a jovem professora santo-amarense, o ponto de partida de uma grande aventura. Durante a viagem, houve muitas paradas e dois pernoites para descanso deles e dos animais. Em cada pernoite — retiram-se os bois da canga, dão-se a eles o descanso e o alimento no pasto da fazenda ou da roça do amigo mais próximo. De repente, a professorinha adormece. O carreiro, ao contrário, se transforma em cão de guarda. São assim os “cordas de couro” do sertão. É assim o Calasans. O sol ainda nem clareou, e, com o silêncio da caatinga, já se ouve, a uma légua de distância, um cantar choroso, deprimente e triste. É o carro de boi levando dona Erotildes em procura de Cumbe. Depois de Contendas, Tanquinho, Cansanção e Quirinquinquá, surge, bem longe, imponente,



Serra Piquaraçá

a serra de Piquaraçá, com as 25 capelinhas, parecendo o caminho do céu. Embaixo, no pé da serra, está a vila que o missionário capuchinho frei Apolônio de Todi, seu fundador, chamou de “Monte Santo”, lugar em que dona Filinha mais uma vez descansa. A próxima parada é na “Fazenda Jibóia”, de João Dantas, do Caritá, onde o coronel Moreira César, conhecido por “corta-cabeças”, se recuperou do segundo ataque de epilepsia. Continua a futura professora de Cumbe seguindo o rastro do comandante da Terceira Expedição.


Como se viesse de uma grande batalha, entra dona Erotildes, de forma triunfal, na vila de Cumbe, tal como Joana d’Arc em Patay. Na “rua da igreja”, o senhor Dantas movimenta o povo para receber a sua professora, tão esperada por pais e filhos quanto uma rainha por seus súditos. Hospeda-se a novel professorinha na Rua do Baltazar (Rua de Cima ou Rua dos Lima), na casa de “Mãe Lali”, sua futura cunhada. Dia seguinte, inicia as aulas apenas para as meninas. Nesta época, meninos e meninas não se misturavam.



Um ano depois, as crianças sentadas ainda em bancos e cadeiras, deveres feitos na perna, volta a professora dona Erotildes a procurar o Capitão Dantas, desta vez para lhe pedir que lhe arranjasse algumas carteiras. Mais que de repente,





 o jovem patriarca da educação da vila de Cumbe solicitamente atende ao pedido, trazendo-lhe uma dúzia de carteiras em seis burros encangalhados, duas em cada lombo.







Com pouco mais de um ano, dona Erotildes casa-se com Leolino, irmão da esposa de seu “padrinho”,
capitão Francisco da Silva Dantas, e vai morar até o último dia da vida na casa (hoje histórica) onde oficiais da 3ª expedição do coronel Moreira César repousaram antes de


Leolino Manoel dos Santos
serem massacrados em Canudos. Dona Filinha teve dez filhos, pela ordem: Rogaciano, Domingos, Valdomira, João (Ioiô), José (Zeca), Raimundo, Pedro, Renato, Maria de Lourdes e Antonio. De uma boa árvore nasceram bons frutos.

Casa da professora
Ioiô da Professora
MuseuDoCumbe.com

Extraído do livro: Capitão Dantas e os 3 Ioiôs (Autor: Dionísio Nóbrega)
(Publicado em A Tarde em 14 de agosto de 1994)

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Primeira juiza mulher filha de Euclides da Cunha - Bahia

Aos dezesseis de setembro de 2013 as dez da manhã desta terça feira, filha de Euclides da Cunha, toma posse como juiza de Direito do Tribunal de justiça do Estado da bahia. A Juiza Sirlei Caroline Alves Santos é a primeira juíza mulher da nossa terra a alcançar este cargo , um orgulho não somente para seus pais, mas também para seus conterrâneos.






"A vitória é fruto de muitas renúncias, persistência  e estudo", diz a Juiza, "sem contar no grande esforço e otimismo empreendidos por meus pais", complementa a juíza." Na verdade, meus pais renunciaram por vezes seus projetos e objetivos para proporcionar a melhor educação possível, concretizando esta bênção na minha vida. Ademais, agradeço a eles por toda formação humanística, por todos os valores cristãos e senso de justiça imbuídos no meu espírito. Agradeço a Deus e a Nossa Senhora que sempre me deram proteção e tenho certeza que nessa caminhada continuarão me encobrindo com seu manto de humildade, força, coragem e mansidão. Não fosse esse conjunto essa conquista não seria possível. Espero desempenhar com coerência e justiça este cargo e satisfazer as expectivas dos jurisdicionados, dando a cada um o que é seu como dizia Santo Agostinho. "


A escolha da Comarca será realizada somente dia 11 de outubro, pois durante um mês a juíza estará participando de cursos como etapa obrigatória para a vitaliciedade.


Sirlei com o  desembargador Antonio Pessoa e a Juiza Georgia Quadros Couto

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Dionísio Nóbrega lança seu terceiro cd

Nosso conterrâneo e grande historiador Dionísio Nóbrega grava seu terceiro CD com 22 músicas
Para baixar ou ouvir, clique na música desejada
Para baixar o cd completo clique AQUI (O arquivo vai compactado em RAR)

DA GUERRA À PAZ
1 Heróis de Canudos (Dionísio Nóbrega)
2 Luar do sertão (Catulo da Paixão Cearense)
3 Na casa branca da serra (Autor desconhecido, letra:Guimarães Passos)
4 Maria la Ô (Ernesto Lecuona)
5 Yolanda (Pablo Milanés)
6 Yo se que te hede amar (A.C. Jobim/ Vinícius de Morais /Versão: Gregorio Barrios)
7 Dicitencellovuie (Fulvo e Falvo)
8  O sole mio (Capurro/Di Capua)
9  Santa Lucia luntana (E. A. Mario)
10 Torna a surriento (G. de Curtis/ E. de Curtis)
11 Douce France (Charles Trenet)
12 Fascination (F. D. Marchetti /N. D.Feraudy /Versão Americana: Dick Manning /Versão Brasileira: Armando Louzada)
13 Joseph (Georges Moustaki)
14 La Boème (Aznavour / Plante /Versão: Raul Sampaio)
15 Quand on n`aquel´amour (JacquesBrel)
16 Bridge over troubled water(Paul Simon)
17 Edelweiss (Oscar Hammerstein II/Richard Rodgers)
18  For the good times (K. Kristofferson)
19 Let It be (Lennon/McCartney)
20 What a wonderful world (George David Weiss/Bob Thiele)
21 Stillenacht (Franz Gruber)
22 Ave Maria (Bach/ Gounod

Índio Home Studio: gravação e arranjos baseados na orquestração das canções interpretadas por Vicente Celestino(2), Cascatinha &Inhana(3), Gregorio Barrios(4,6), Nana Mouskouri(5,21), Gino Bechi(7), Dalida(8), Peppino DI Capri(9), BeniaminoGigli(10,22), Charles Trenet(11), Nat King Cole(12), Georges Moustaki(13), Orlando Silva(14), Jacques Brel(15), Simon&  Garfunkel(16), Mary Carawe(17), Perry Como(18), Judy Collins(19), Louis Armstrong(20) – Participação: Ney Campos (Ney de Zezito), com bandolim (1,2,8)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Você sabia...?


que Ioiô da Professora (filho da primeira professora de Cumbe) nunca foi aluno da mãe?
Pois é, naquela época, professora só ensinava às meninas, mas nas horas vagas a mestra cobria algumas deficiências do filho. Os meninos ficavam com os professores.


A primeira aula assistida na Vila de Cumbe  aconteceu em 1916, ministrada por mestre Henrique. A escola funcionava na esquina do Beco de Manoel Batista com a futura avenida Rui Barbosa exatamente na casa onde seria muitos anos depois “a venda” de Neluzinho. O filho da primeira professora trazida pelo Capitão Dantas  contou ao historiador Dionísio Nóbrega que em 1917, quando estava em aula com o Prof. Henrique, aconteceu o “Fogo do Calêncio”, começado na “rua” da Igreja e terminado no Beco de Manoel Batista (hoje parte da Elson Torres de Aquino), precisamente em frente da casa que hoje pertence a Maria Elisa de Nelson Bastos, próximo a Daniday Modas de Netinho.

Extraído do livro: Capitão Dantas e os 3 Ioiôs (Autor: Dionísio Nóbrega)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Cumbe do Major - Música - Zé Costa

Ouça aqui a música Cumbe do Major
Composição: Zé Costa em homenagem ao Arraiá do Cumbe



Zé Costa







Letra:
Cumbe do Major

Pra você dançar forró é preciso ter molejo
Ter uma sabedoria pra remexer o corpo inteiro (bis)

Na minha terra a escola de dança é forró
E quem não dança fica besta e só

É de dar dó
É de dar dó

A cabocla quer dançar
Quer suar, quer namorar
Quer viver um deslumbre
No Arraiá do Cumbe do Major

(falado) Êê saudade de Uauá, Bendegó, Caratacá, Cocorobó,
Monte Santo terra santa, Heliópolis terra de todos nós,
Quijingue nesse swing, todo povo do sertão


Abaixo: Matança (Xangai)
Zé Costa com Margareth Menezes
MP3



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Cantor, compositor e nosso conterrâneo amigo Zé Costa
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terça-feira, 16 de abril de 2013

Açude de Canudos - 1962

Foto/contribuição: Dionísio Nóbrega

A partir da esquerda: Juviniano Gomes, Mariano Ribeiro (irmão de Maria Elisa Bastos) Raimundo Tomáz de Aquino e Aloísio Batista

domingo, 17 de março de 2013

SOCIEDADE RECREATIVA EUCLIDES DA CUNHA - Posse de Miguel Soares

Foto/contribuição: João Bosco Santos Soares















O primeiro "clube social" de Euclides da Cunha foi fundado pelo médico Dr. Salviano Maia Bittencourt em parceria com o músico e comerciante Edmundo Esteves de Abreu entre 1945 e 1950. Era denominado "Sociedade Recreativa Euclides da Cunha". ficava situado na Praça Duque de Caxias ao lado do Hotel Lua. Em 1962 foi formado um novo clube, o GCREC (Grêmio Cultural Recreativo de Euclides da Cunha) com nova sede situado até hoje na rua D Pedro I. No ano 1967 o então presidente Edmundo Esteves de Abreu adquiriu o prédio da Praça Duque de Caxias e fundou o ACRE (Alvorada Clube Recreativo Euclidense).

Na foto vemos os retratos na parede dos fundadores Dr Salviano Maia Bittencourt e Edmundo Esteves de Abreu.
A partir da esquerda vemos o então Coletor Estadual Belarmino Campos, Deputado José Bezerra Neto (Zuza Bezerra), Miguel Soares (tomando posse como presidente),  João Augusto (Joãozito), Raildo Macêdo (secretário, lendo a ata de eleição), Raimundo Tomaz de Aquino, José Dantas (Zeca Dantas) e bem ao canto, sentado, Serapião Victor. Todos fazendo parte da diretoria do clube dando posse ao presidente Miguel Soares dos Santos

Informações: Hildebrando Maia


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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Padre Pedro celebrando a última missa de Canudos

Padre Pedro de Euclides da Cunha - Bahia celebrando a última missa de Canudos Velho
Está no vídeo Dona Nenem de Serapião da Loja tocando seu instrumento preferido: O órgão de pedais da década de 50, idêntico  a esse do link:   Piano de pedais - Clique aqui

O vídeo abaixo é parte de um grandioso documentário dirigido pelo jornalista Carlos Gaspar

Assista ao vídeo:






Colaboração: Handerson Monteiro e Elias da Maria Senhora

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Aguarde o texto explicativo sobre este raríssimo vídeo enviado por nosso grande colaborador e incentivador Handerson Peixinho Monteiro

Este vídeo é uma pequena parte de um documentário da construção do açude de Canudos
Em breve colacaremos outras partes importantes e o documentário completo