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segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ramalho - O João Gibão do Sertão

Foto/contribuição: Elias da Maria Senhora

Ao lado, Nito de Ananias e Ramalho exibindo sua asa de pano na Praça Duque de Caxias.




>>João Gibão de Saramandaia




Em 1976, acontecia o último capítulo da novela Saramandaia, de Dias Gomes, exibida pela Globo. João Gibão, que escondia suas belas asas, finalmente conseguiu voar.

Dias depois, em nossa cidade, Ramalho, mais doido que cabra em ladeira resolveu incorporar João Gibão da novela. Com barras de vergalhão, pindoba, bambu e uma câmara de ar (sim... câmara de ar, meu povo!), ele construiu sua própria asa.
— Câmara de ar, é? Pra que serve, hein? Pra voar ou pra boiar no açude?

Acompanhado do parceiro Adelmo Coelho (que era doido, mas com juízo), os dois saíram anunciando de porta em porta, de bodega em bodega, que Ramalho iria voar no próximo domingo, às 10 da manhã, partindo da Serra da Santa Cruz. A geringonça alada ficou em exposição, com pompa e tudo, na Fonte Luminosa da praça durante uma semana. Parecia coisa de outro planeta

No dia da façanha, Ramalho levou a traquitana pra serra e, vestido com uma asa de pano e coragem de sobra, corria pelas ruas da cidade gritando:
— Manguelê, mangalá, eu vou voar, vou vooaaaá!

A Serra foi cercada com corda e lona pra cobrar ingresso. E não é que esgotou tudo? Foi um sucesso de bilheteria, parecia até São João antecipado.

 O povo se aglomerou feito formiga em cima de doce.

Depois de embolsarem um dinheirinho bom com as entradas dos curiosos, Adelmo se escondeu dentro de um Fusca, atrás da serra, se tremendo mais que vara verde.

Enquanto isso, a Praça Duque de Caxias tava entupida de gente, todo mundo olhando pro céu, achando que ia ver Ramalho dar um rasante tipo passarinho encantado.

 O povo, de olho arregalado na direção da Rua dos Lima, só esperando o milagre da decolagem.

Mas Ramalho, com aquela cara de quem tem um plano mais torto que estrada de roça, disse que ia pegar o resto dos equipamentos no carro. Foi aí que a ficha caiu: o cabra ia era dar o pinote! O povo desconfiou e começou a correr atrás dele, que parecia final de novela com perseguição.

Adelmo, dentro do carro, nervoso feito bezerro desmamado, deixou cair as chaves no chão do carro. Mas por sorte (ou azar do povo), conseguiu dar a partida e sair em disparada pelo mundo, deixando pra trás uma multidão de euclidenses frustrados, revoltados e com cara de quem comprou ingresso pra ver passarinho... e viu foi nada!
















Informações: Elias Souza, Ohniram Marinho, Gutembergue Maranduba, Tonheco e Doidinho de Totonho de Artur


Texto: Ney Campos

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